O Estado de S. Paulo

‘Há pouco espaço para sofrimento na Argentina’

Para diretor de América Latina do Wilson Center, protestos contra Milei não surpreendem

Benjamin Gedan, diretor do Wilson Center

Para o diretor de América Latina do centro de estudos Wilson Center, em Washington, especialista em assuntos sobre a Argentina,

Benjamin Gedan, há pouco espaço para se impor aos argentinos mais sofrimento econômico. Por isso, diz ele, os protestos no país contra o megapacote econômico do presidente Javier Milei não surpreendem.

Deveremos esperar mais turbulência política e social na Argentina?

O programa de estabilização de Milei não deveria surpreender ninguém. Afinal, ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Como economista que fazia campanha com uma plataforma antiestablishment, ele praticamente gritou aos quatro ventos sobre a necessidade urgente de reestruturar dramaticamente a gestão econômica da Argentina. No seu discurso inaugural, prometeu terapia de choque, depois de apresentar um diagnóstico sombrio sobre o estado das finanças públicas da Argentina: “No hay plata”. Isso não significa que os argentinos tenham de gostar, incluindo aqueles que votaram em Milei. Afinal de contas, os argentinos têm sido atingidos por uma economia em crise e por uma inflação brutalmente elevada durante muitos anos e há pouca inclinação para mais sofrimento à medida que os preços dos alimentos, dos medicamentos, dos transportes e de outros serviços públicos sobem. Ao mesmo tempo, uma porcentagem grande da população depende fortemente de empregos públicos e de programas de assistência social que também podem estar em risco. Por isso não foi surpresa ver grandes protestos contra o governo poucos dias após a posse de um presidente que venceu facilmente as eleições.

Com relação às medidas de segurança aplicadas durante os protestos, há uma ameaça à democracia na Argentina? Existe apoio, por parte da sociedade, às restrições em vigor?

No momento em que a Argentina celebra 40 anos de democracia ininterrupta, é importante proteger o direito à manifestação pacífica. Dito isso, muitos argentinos estão exaustos com as frequentes interrupções causadas pelas manifestações na capital. Equilibrar a importância da ordem pública e da expressão política será um desafio para este governo. •

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2023-12-25T08:00:00.0000000Z

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