Mão de obra estrangeira é recorde no País
Número de imigrantes em empresas brasileiras cresceu 53% de janeiro a agosto em relação ao mesmo período de 2023
MÁRCIA DE CHIARA
Com o mercado aquecido, 321.196 trabalhadores vindos de outros países estavam formalmente empregados no Brasil em agosto, informa Márcia De Chiara. A alta tem sido puxada sobretudo por venezuelanos e cubanos. Rotatividade de estrangeiro na construção civil é até 67% menor.
A escassez de mão de obra no mercado de trabalho tem acelerado as contratações formais de estrangeiros no Brasil. De janeiro a agosto deste ano, entre admissões e demissões, o saldo de imigrantes trabalhando formalmente no País cresceu 53% em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O crescimento tem sido puxado sobretudo pela contratação de venezuelanos e cubanos, que encontram oportunidades principalmente nas regiões Sul e Sudeste, onde a oferta de vagas é ampla e os índices de desemprego estão abaixo da média nacional. No trimestre terminado em agosto, a taxa de desemprego no Brasil foi de 6,6%, o menor resultado para o período do ano em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número total de estrangeiros com carteira assinada no mês passado atingiu 321.196 trabalhadores. É a maior marca da série iniciada em janeiro de 2020 pela nova metodologia do Caged, aponta um levantamento feito, a pedido do Estadão, pela LCA Consultores. O estudo considerou dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), atualizados pelo saldo de contratações mensais do Caged.
Além do número de ocupados, a taxa de crescimento anual de estrangeiros empregados mês a mês também foi recorde em agosto deste ano: avançou 27,6% ante o mesmo mês de 2023. Além disso, o resultado ficou quase dez pontos acima do aumento registrado em agosto de 2023 na comparação com igual período de 2022 (17,9%).
Em termos absolutos, o número de estrangeiros empregados formalmente ainda é pequeno e insuficiente para suprir a falta de mão de obra qualificada. Os trabalhadores estrangeiros com carteira assinada representam cerca de 0,6% do total de empregados formais, que somam 47 milhões de pessoas.
“O mercado de trabalho aquecido é um motivo pelo qual tem sido registrado esse crescimento”, afirma o economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi, responsável pelo levantamento. Ele pondera, no entanto, que o número de estrangeiros ocupados pode ser maior, porque muitos estão trabalhando informalmente. “Agora conseguiram carteira (assinada) num momento melhor do mercado de trabalho”, observa.
CONTRATAÇÕES. Na RHBrasil, por exemplo, uma das cinco maiores consultorias de recrutamento e seleção de vagas operacionais, técnicas e administrativas do País, que tem como clientes gigantes nacionais do varejo e multinacionais da indústria, o número de estrangeiros contratados mais do que dobrou neste ano.
Entre janeiro e julho, a consultoria fechou 907 contratos de trabalho com estrangeiros, um volume 123% maior em relação ao mesmo período de 2023. Quase 90% são de venezuelanos, mas há também angolanos, argentinos e haitianos. Muitos são refugiados. Mais de 90% foram contratados para trabalhar na indústria em funções operacionais.
A razão para o forte aumento das contratações de estrangeiros, segundo o gerente de recrutamento e seleção da consultoria, Joanir Schadeck, é o crescimento da oferta de vagas, principalmente no Sul e no Sudeste. “No Sul, está virando pleno emprego: a taxa de desemprego no Brasil estava em 6,9% no segundo trimestre e em Santa Catarina era de 3,2%”, diz.
Dados do Caged mostram que a região Sul liderou a absorção líquida de trabalhadores (65,1%) entre janeiro e agosto deste ano, seguida pelo Sudeste (18,7%) e o CentroOeste (10,7%). A indústria puxa a fila entre os setores, com 40,6% dos empregos para estrangeiros, especialmente o setor de alimentação.
ENGAJAMENTO. A BRF, por exemplo, gigante de proteína animal, com indústrias no Sul e no Centro-Oeste, tem sentido na prática os efeitos da escassez de mão de obra nessa regiões, segundo Alessandro Bonorino, vice-presidente de Gente, Gestão e Transformação.
Desde 2019, a companhia tem um programa voltado para contratar imigrantes. Atualmente, são 8,3 mil estrangeiros num total de 100 mil funcionários. A maior parte está alocada nas unidades de Chapecó (SC), Concórdia (SC), Capinzal (SC), Toledo (PR) e Lucas do Rio Verde (MT).
Bonorino diz que só vê vantagens ao contratar esses trabalhadores. “É a fome com a vontade de comer”, compara ele. O engajamento dos venezuelanos é um dos mais altos na companhia, supera 90%, diz o executivo.
Asdrubal Jose Chanchamire Hurtado, de 32 anos, casado e com um filho, é um dos 5,4 mil venezuelanos empregados na BRF. Desde março ele trabalha na linha de produção de aves da unidade de Chapecó (SC). Com formação universitária em Administração de Empresas, ele exerceu a profissão em seu país. Também por cinco anos foi sargento da guarda nacional venezuelana.
Desde que saiu do país em 2019, trabalhou em pizzaria e na construção civil em Roraima, mas em regime informal. Teve pela primeira vez a carteira assinada quando foi para Chapecó, há três anos. Inicialmente, conseguiu emprego em um frigorífico. Depois migrou para construção civil. Foi para a BRF por causa do ganho salarial, de cerca de 40% em relação ao emprego anterior, e dos benefícios. “No futuro, pretendo retomar a minha profissão no Brasil e crescer”, diz Hurtado.
Crescimento Empresa de RH recrutou 907 estrangeiros de janeiro a julho, 123% a mais do que no mesmo período de 2023
“No futuro, pretendo retomar a minha profissão no Brasil e crescer” Asdrubal Jose Hurtado Venezuelano formado em Administração, que trabalha em frigorífico
“Quero melhorar na carreira, mas tudo tem o seu tempo” Liliana Gomez Venezuelana formada em Administração, balconista de supermercado
ROTATIVIDADE DE ESTRANGEIRO NA CONSTRUÇÃO CIVIL É ATÉ 67% MENOR. PÁG. B2
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