Necessidade de insulina cai com uso de células-tronco
Método apresentou bons resultados, 1 ano após administração, mas ainda não existe um cálculo de quanto deve custar
GINA KOLATA
Uma única infusão de um tratamento à base de células-tronco pode ter curado 10 de 12 pessoas com a forma mais grave de diabete tipo 1 em um estudo científico. Um ano depois, esses dez pacientes não precisam mais de insulina. Os outros dois passaram a necessitar de doses muito menores.
O tratamento experimental, chamado zimislecel, desenvolvido pela Vertex Pharmaceuticals, de Boston (EUA), envolve células-tronco que os cientistas induziram a se transformar em células das ilhotas pancreáticas (responsáveis por regular os níveis de glicose no sangue). As novas células foram infundidas no organismo e chegaram ao pâncreas, onde se instalaram.
O estudo foi apresentado na noite de sexta-feira, durante o congresso anual da Associação Americana de Diabete, e publicado na respeitada revista científica The New England Journal of Medicine. “É um trabalho pioneiro”, disse Mark Anderson, professor e diretor do centro de diabete da Universidade da Califórnia em San Francisco. “Ficar livre da insulina muda a vida”, acrescentou ele, que não participou do estudo.
A Vertex, como outras empresas farmacêuticas, preferiu não anunciar o custo do tratamento antes da aprovação pela Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos Estados Unidos (que tem atuação semelhante à brasileira Anvisa). Um porta-voz da Vertex afirmou que a empresa tem dados apenas da população estudada, por isso ainda não é possível dizer se o medicamento beneficiaria outras pessoas com diabete.
A IMPORTÂNCIA. Controlar os níveis de insulina exige um esforço constante – e muitas vezes custoso. Níveis elevados de açúcar no sangue podem causar danos a coração, rins, olhos e nervos. Mas, se os níveis caem demais, a pessoa pode sentir tremores, desmaiar ou ter convulsões. Os pacientes do estudo estão entre os cerca de 30% do tipo 1 que desenvolvem uma falta de perc e pç ã o da hi pogl i c e mia. Quem sofre dessa condição não percebe quando os níveis de glicose estão realmente despencando.
É uma forma assustadora de viver, afirmou Trevor Reichman, diretor do programa de transplante de pâncreas e de ilhotas pancreáticas do University Health Network, um hospital de Toronto, no Canadá, e autor principal do novo estudo. “Você se preocupa o dia inteiro, todos os dias, com o nível de glicose, com o que vai comer e com quando vai se exercitar.” Ele acrescentou que os episódios de hipoglicemia desapareceram nos primeiros 90 dias após o tratamento.
Ponto de atenção Pacientes precisaram usar imunossupressores, o que preocupa alguns especialistas
PROBLEMAS. No entanto, os voluntários do estudo precisaram tomar medicamentos para impedir que o sistema imunológico destruísse as novas células – e o uso de imunossupressores pode ser para a vida toda. Suprimir o sistema imunológico, porém, aumenta o risco de infecções e, a longo prazo, pode elevar o risco de câncer. O alerta é de Irl Hirsch, especialista em diabete da Universidade de Washington. •
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2025-06-24T07:00:00.0000000Z
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