O Estado de S. Paulo

Saúde e diversão

Veja onde praticar atividades físicas divertidas, como o bambolê

KÁTIA ARIMA

“As técnicas circenses possibilitam fazer movimentos arriscados com segurança. A altura é um estímulo do praticante”

Gabriela Bagno Educadora física e bailarina

“O bambolê é maravilhoso. Faço sempre que tenho tempo livre. Não preciso me locomover, só vou até o quintal e pratico”

Silmara Batista Santos Farmacêutica

“No parque de trampolins, ficamos uma hora pulando, brincando de queimada, slackline, basquete e perdendo calorias”

Fabrício Akiba Advogado

Se você é do time que se matricula na academia cheio de esperança de colocar o exercício físico na rotina, mas alguns meses depois já perdeu a empolgação, saiba que você é a regra, não a exceção: o índice de evasão é de 70% entre os praticantes de exercícios físicos em academias no Brasil, de acordo com um estudo publicado na Revista Brasileira de Psicologia do Esporte. Provavelmente o problema não esteja em você, mas na atividade escolhida ou motivação.

“O índice de desistência nas academias é altíssimo, mas essa não é a única opção. É importante explorar o universo de possibilidades de atividades e não desistir de encontrar uma do seu agrado. Quem experimenta essa diversidade consegue encontrar o caminho”, encoraja Osvaldo Luiz Ferraz, professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP).

As academias vêm investindo em atividades diferentes e divertidas, como o bungee fit (em que os participantes dançam pendurados em elásticos; leia a reportagem em bit.ly/bungeefit), mas há mais opções. Além dos esportes, das ginásticas, das lutas e das danças, existem atividades lúdicas como alternativa para movimentar o corpo de forma brincante. Bambolê, escalada e circo podem ser ótimos exercícios, com benefícios para a saúde de crianças e adultos.

Foram as práticas circenses que encantaram Ludmila Santos, que foi sedentária até os 32 anos. “Na época, eu trabalhava como advogada, tinha um filho pequeno e me sentia angustiada. A minha psicoterapeuta me sugeriu procurar uma atividade física. Toda vez que eu me queixava, ela insistia nisso, até que comecei a ficar com vergonha e resolvi tentar algo. Fui fazer uma aula de circo e me encantei”, conta. A paixão foi tão forte que em 2019 ela fundou a sua própria escola, a Trapézio Voador, na zona oeste de São Paulo.

Sem nunca ter praticado nenhum esporte regularmente na vida, Ludmila começou a frequentar as aulas de circo e a ganhar força e flexibilidade. “Se você pratica regularmente consegue fazer movimentos impressionantes. Comecei a me achar incrível e esse sentimento se transferiu para outras áreas da minha vida. Passei a dormir melhor e viver menos estressada”, diz Ludmila, que hoje tem 44 anos e ganha muitos aplausos da plateia em seus voos nas alturas.

Na Trapézio Voador é possível fazer aulas avulsas ou periódicas de trapézio de voos e outras modalidades circenses como tecido acrobático, lira, acrobacias de solo e de trampolim. A maioria dos alunos da escola é formada por mulheres na faixa etária de 30 anos. Mas qualquer pessoa liberada pelo médico, a partir de 4 anos, pode praticar – não há pré-requisitos. “Os idosos ficam envergonhados, mas também podem aprender”, garante Ludmila.

Aluna da Trapézio Voador, aos 55 anos Suzi Reis conquistou 1,5 milhão de seguidores no Tiktok com vídeos de suas apresentações no trapézio de voos. Ganhou também músculos mais fortes, mais concentração e mais flexibilidade com as atividades circenses. “É a coisa mais gostosa do mundo. Você pratica feliz, sem perceber o esforço que faz.”

Amante dos esportes, Suzi também joga vôlei e já praticou natação, ginástica artística, saltos ornamentais e balé. Para ela, o diferencial das práticas circenses é a diversão. “As atividades de circo te levam para um mundo mágico, encantador, com movimentos alegres e livres que deixam as pessoas de boca aberta.”

TRABALHO MUSCULAR. A professora da Trapézio Voador Joane Serpa, de 42 anos, graduada em Esporte e mestre em Controle Motor pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que as modalidades de circo treinam principalmente a força muscular, a flexibilidade e a coordenação motora. “É uma atividade física complexa, que envolve o corpo inteiro. Para adquirir novas habilidades, o praticante vai sempre se desafiando.”

Mesmo quem é sedentário pode praticar, mas ela recomenda começar com um treino por semana, para que não sejam desmotivados pelas dores musculares. “Por seu trabalho intenso de força, o circo causa dor em todo o corpo no processo de adaptação.”

Mas não é perigoso? A educadora física e bailarina Gabriela Bagno, que se especializou nas práticas circenses, explica que o circo é justamente uma prática artística que trabalha a superação do risco. “As técnicas constroem a possibilidade de fazer movimentos arriscados com segurança. A altura é um estímulo do praticante.”

Por isso, ela orienta: escolha uma escola séria, que garanta a segurança do praticante, com os processos, pessoas e equipamentos adequados. “É preciso usar técnicas de segurança extrema e minuciosa para diminuir esses riscos.” Também é importante que os alunos tenham responsabilidade e não pratiquem em instalações improvisadas, alerta Gabriela. “Com a popularização da prática, há quem pendure os tecidos nos galhos de árvores para praticar, o que é perigoso, seja qual for a altura.”

DESENVOLVER HABILIDADES.

Uma vez por semana, Sofia Cavalcante, de 7 anos, sobe um paredão na sua escola, em Santana de Parnaíba (SP), na aula de escalada. “Gosto de escalar e não sinto medo”, afirma. Sua mãe, a advogada Patrícia Cavalcante, só vê vantagens na prática. “A escalada trabalha a força, a concentração e a coordenação motora.”

Praticar atividades “radicais” podem deixar alguns pais com frio na barriga pelo medo de acidentes. Mas o médico Wilson Lino Junior, coordenador da ortopedia pediátrica do Hospital Infantil Sabará, afirma que é fundamental deixar que as crianças experimentem práticas diversificadas, para que eles desenvol

vam suas habilidades. “É importante que os pais saibam que não deixar uma criança experimentar atividades por medo que ela se machuque não é uma forma de protegê-la. Quando são impedidas de testar os seus limites e só ficam no videogame, elas se acidentam mais, pois não treinaram o equilíbrio e não sabem cair”, explica.

Segundo o pediatra, não existe um exercício físico superior a outro, pois a melhor atividade a ser praticada pela criança é aquela que ela faz com gosto. “Passear com o cachorro, andar de bicicleta, qualquer ação é boa quando praticada com gosto. O que ela tem prazer em praticar será bem-feito e permitirá que ela ganhe habilidades.” E quanto mais a criança variar as atividades, melhor, já que isso permitirá se desenvolver em diferentes aspectos.

Para os adultos, a lógica é a mesma, segundo o professor da USP Osvaldo Ferraz. “Qualquer prática corporal ajuda no bem-estar. O benefício não é só físico, mas também psicológico e social. Isso tem um resultado na autoimagem e proporciona envolvimento. Portanto, é um critério importante na escolha fazer aquilo de que gosta, para não desistir.” Ele explica que as brincadeiras de criança, como pular corda, podem valer como exercício físico para os adultos, contanto que sejam praticadas por 50 minutos, de preferência três vezes por semana.

No ginásio de escalada indoor Casa de Pedra, qualquer pessoa com mais de 3 anos pode se arriscar pelos paredões, acompanhado por um instrutor. “Na escalada há graduações, com opções mais fáceis para iniciantes até as mais difíceis para atletas ou praticantes experientes”, explica Janaina Batista Vicente Figliolia, gerente-geral da Casa da Pedra. Entre os benefícios mais percebidos pelos participantes está a saúde mental.

“Recebemos relatos diários de pessoas que consideram a escalada uma forma de ‘terapia’, que ajuda a controlar a ansiedade, a depressão e melhora o sono”, diz. Para aproveitar os espaços, nos bairros paulistanos de Moema e Perdizes, é possível pagar pelo período de três horas ou assinar um plano para uma maior frequência.

A DANÇA DO BAMBOLÊ. A estudante Olivia Monaco de Morais, de 17 anos, não curte esportes, nem academia de ginástica, mas consegue dançar enquanto roda bambolê na cintura por mais de um hora, sem parar. “Vale uma ida à academia, pois é uma atividade que cansa e faz suar”, informa.

Todo dia, busca treinar pelo menos 20 minutos. “Eu coloco uma lista de músicas legais e me deixo levar pelo bambolê, passo um tempão fazendo isso”, conta. Ela é praticante da chamada bambodança, que conheceu na sua festa de 7 anos, em uma apresentação da sua professora, Patricia Arnosti.

É preciso ter muita concentração e treino para dançar sem deixar o bambolê cair, diz Olívia. “No início, ficava preocupada e meus passos ficavam duros, mas depois consegui deixar o movimento mais fluido e incorporar a dança. É uma atividade que exige muita entrega.” Em vídeos no Instagram e no Youtube, Olívia encontra novos desafios para superar. “É muito gostoso se deixar levar, girar o bambolê da forma mais natural possível”, diz. Em 2020, ela fez um curso online de bambodança oferecido por Patricia. “Muita gente tem ideia de que bambolê é coisa de criança, mas indico para qualquer um que esteja disposto a tentar.”

No início do ano, a farmacêutica Silmara Batista Santos, de 37 anos, estava procurando uma atividade para aliviar o estresse do trabalho, quando experimentou a bambodança. “O bambolê é maravilhoso. Faço sempre que tenho tempo livre. Não preciso me locomover, só vou até o quintal e pratico”, diz.

Silmara participou de uma oficina de Patricia em março. Era a mais nova da turma. “Tinha uma senhora de 60 anos que conseguia rodar três bambolês ao mesmo tempo.” Além de combater o estresse, o bambolê ajuda estimula o intestino a trabalhar, reduz a ansiedade e melhora a autoestima, percebe Silmara. “Quando eu uso o bambolê mais pesado com frequência, funciona como uma massagem, que me ajuda a desinchar.”

O chamado “core”, região central do corpo, é a parte mais trabalhada ao rodar o bambolê, segundo Patricia Arnosti, professora de bambodança há 10 anos. Mas o que realmente retém os praticantes não são os benefícios estéticos, mas o bem-estar geral: “É um exercício agradável, lúdico, que possibilita um despertar da criança interior. Os alunos dão risada, fazem exercício enquanto brincam”.

ADULTOS NO PULA-PULA. Todos os dias, o advogado Fabrício Akiba, de 28 anos, pratica musculação ou jiu-jítsu. Assinante do Gympass, que dá acesso a várias academias e serviços de bem-estar, ele percebeu que havia na lista de opções o parque de trampolins Gravidade perto do seu local de trabalho, no bairro do Ipiranga, em São Paulo – e resolveu experimentar, junto com alguns amigos. “Ficamos uma hora pulando, brincando de queimada, slackline, basquete e perdendo calorias”, conta. Voltou outras vezes com a namorada e o sobrinho de 11 anos. “É um exercício que alimenta a criança dentro de você, acho muito divertido.”

Quando trabalhou como monitor no parque de trampolins Gravidade, em 2017, Igor Pereira dos Santos perdeu 20 dos seus 90 quilos em apenas um mês. “Passava o dia pulando e me divertindo”, recorda-se. No seu dia a dia no parque, ele acompanhava principalmente crianças, mas também via adultos e idosos nos trampolins. No parque de trampolins Gravidade, as crianças menores de 3 anos ficam em uma área separada, por segurança.

O especialista em ortopedia pediátrica Wilson Lino Junior alerta que crianças de tamanhos diferentes não devem ficar em uma área pequena de trampolim, pois há perigo se uma criança mais pesada cair em cima de outra menor. “Não basta ter a presença de um adulto responsável, é preciso que essas crianças pulem separadas”, esclarece.

Tomados os devidos cuidados, o pediatra afirma que é bom para a criança frequentar parques de trampolim. “A maioria dos acidentes acontece dentro de casa, em quedas de cama ou do sofá. As crianças fazem isso porque é divertido. Mesmo dentro de casa vai tentar praticar os seus saltos. É melhor que treinem no parque.”

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2022-08-06T07:00:00.0000000Z

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