Brasil, paraíso do beach tennis e dos prêmios
Maior centro da modalidade na atualidade, País atrai estrangeiros com bom número de torneios; com resultados positivos, atletas de elite conseguem estabilidade financeira
BRUNO ACCORSI
Maior centro da modalidade, País é adotado por estrangeiros como Sofia Cimatti, de 31 anos, ex-número 1 do mundo.
Criado na Itália durante a década de 1970, o beach tennis foi apropriado pelo Brasil de maneira tão intensa, especialmente depois da pandemia de covid-19, que o País se tornou o centro mundial do esporte. Não à toa, jogadores profissionais europeus estão se mudando para cidades brasileiras, onde ocorrem a maioria dos torneios do circuito da Federação Internacional de Tênis (ITF).
No calendário de 2024, de 59 competições de níveis médio e alto, que oferecem premiação em dinheiro, 34 têm sede no Brasil. Atual número 1 do mundo ao lado do brasileiro André Baran e detentor de seis títulos mundiais, o italiano Michelle Cappelletti seguiu a trilha da tendência, se mudou para São Paulo em 2022 e hoje vive em um dos condomínios de alto padrão de Alphaville.
“Me mudei depois da pandemia. O esporte cresceu demais no Brasil, explodiu. Vi que valeria a pena viver aqui por ter vários campeonatos durante o ano para poder participar. E mais atletas estão vindo para cá, a maioria italianos, mas tem também francês, espanhol...”, afirma ao Estadão.
Cappelletti tem como vizinha nas redondezas de Alphaville a compatriota Sofia Cimatti, 11ª colocada do ranking da ITF. A italiana de 31 anos compete no circuito desde 2010 e já foi a número 1 do mundo, mas foi só depois de mudar para o Brasil que começou a se sustentar apenas participando de competições.
“Vivo do beach tennis há dois anos. Na verdade, sempre foi o meu trabalho. Quando eu morava na Itália, tinha uma escola, dava aula o ano todo e, de vez em quando, viajava aos torneios. Agora, posso viver como atleta profissional”, conta. “Os estrangeiros que querem viver do beach tennis precisam mudar para o Brasil, pois aqui tem mais possibilidades e um reconhecimento bem maior do que na Europa.”
CRESCIMENTO. O interesse pelo beach tennis ganhou tração no Brasil por causa do crescimento da prática entre amadores, que passaram a consumir as competições e o estilo de vida ligado ao esporte. A Confederação Brasileira de Tênis (CBT) estima que o número de praticantes no País está, hoje, na casa dos 1,2 milhão.
Embora seja o berço da modalidade, a Itália não observou o mesmo fenômeno. O país europeu mantém a tradição de ter atletas de destaque, como mostram os rankings masculino e feminino da ITF, com três e seis italianos cada em seus respectivos top 10. Além disso, também sedia eventos importantes do circuito, caso do Campeonato Mundial deste ano, disputado em setembro na Emília-Romanha.
Fora isso, apenas três etapas do circuito tiveram sedes italianas. Outras nações da Europa que recebem torneios de maior importância são Portugal, Espanha, Polônia, Estônia e França. Em nenhum desses países a cultura do beach tennis foi tão difundida quanto no Brasil nos últimos anos.
“Na Itália, depois da pandemia, ao contrário do Brasil, o beach tennis diminuiu”, conta Sofia. “Muitas pessoas começaram
a jogar padel e isso não ajudou nosso esporte. A Europa ainda tem torneios grandes, mas os números são bem menores do que aqui no Brasil.’’
Mesmo em território brasileiro, viver do beach tennis ainda não é uma opção que abrange tantos atletas. Fazer dinheiro a ponto de poder se dedicar apenas ao esporte está restrito àqueles que atingiram o topo na elite. “Se você estiver entre os cinco melhores dá para ganhar um dinheiro, sim, ter estabilidade financeira, sim. Não tenho outras fontes de renda”, diz Cappelletti.
No Brasil, há a vantagem de existirem empresas dispostas a patrocinarem os atletas, além eventos fora da organização da ITF. “As premiações ainda são baixas. Os patrocínios, comparados a quando comecei, são maiores e isso ajuda e nos permite fazer da nossa paixão um trabalho. De fato, só poucos jogadores podem se permitir viver como atleta profissional, sem precisar dar aula ou ter uma outra entrada fixa mensal”, comenta Sofia.
VALORES. O circuito de beach tennis da ITF tem diferentes categorias, em um sistema semelhante ao do tênis. Os torneios de menos valor são os de nível BT10, que não dá nenhum prêmio em dinheiro, e BT50, com premiação total distribuída entre os competidores de US$ 4 mil (R$ 21,82 mil) a US$ 9 mil (R$ 49,10 mil). Em todos os torneios, 20% do bolo total vai para os campeões, 12% para os vice-campeões, 5% para os semifinalistas e 2% para os quadrifinalistas.
A premiação aumenta um pouco nas competições de nível BT100, com valores de US$ 10 mil (R$ 54,56 mil) a US$ 14 mil (R$ 76,38 mil), e sobe para entre US$ 15 mil (R$81,84 mil) e US$ 24 mil (R$ 130,94 mil) nos torneios BT200. Na próxima categoria acima, a BT400, o total em prêmios varia de US$ 35 mil (R$ 190,95 mil) a US$ 100 mil (R$ 545,58 mil).
Os torneios mais nobres do circuito pertencem à Sand Series, cuja premiação mínima permitida é de US$ 50 mil (R$ 272,79 mil). Não há limite para o máximo, mas, na atual temporada, apenas a Sand Series da ilha caribenha de Aruba ofereceu um valor superior ao mínimo: US$ 75 mil (R$ 409,19 mil). O Brasil tem três eventos
desse nível, com sedes em Ribeirão Preto e Brasília, já disputados, e em São Paulo, cuja torneio ocorre nesta semana e vai até sábado na Arena Eztec, no Morumbi. A estrutura envolve nove quadras disponíveis e oferece espaço para cerca de 3 mil espectadores.
“A edição do Sand Series em São Paulo será especial. Estamos investindo na estrutura para proporcionar conforto aos torcedores, com serviços premium, restaurante, lojas, bares e uma arena completa”, diz Anderson Rubinatto, membro do comitê organizador.
Há, ainda, outras competições grandes organizadas pela ITF. O Mundial da Emília-Romanha distribuiu US$ 45 mil (R$ 245,51 mil). Já a Copa do Mundo, que será disputada de 10 a 15 de dezembro, no mesmo local do Sand Series de São Paulo, vai distribuir US$ 35 mil (R$ 190,95 mil). •
‘Febre’ verde e amarela Confederação Brasileira de Tênis estima que o Brasil tem hoje 1,2 milhão de praticantes de Beach Tennis
“Vivo do beach tennis há dois anos. Na verdade, sempre foi o meu trabalho. Quando eu morava na Itália, tinha uma escola, dava aula o ano todo e, de vez em quando, viajava aos torneios. Agora, posso viver como atleta profissional” Sofia Cimatti, 31 anos italiana que vive no Brasil
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