Rio Negro está no nível mais baixo; seca ameaça indústria em Manaus
Índice de ontem superou em 4 cm a maior seca histórica anterior, de 2010; baixa afetou também afluentes, causando isolamento de comunidades em 38 municípios
JOSÉ MARIA TOMAZELA
Em um dia, o Rio Negro baixou mais de dez centímetros – na manhã de ontem, nível era de 13,59 metros. Na pior seca até agora, em 2010, chegou a 13,63 metros. Falta de água afeta circulação de navios de carga e ameaça a produção de fábricas de eletrônicos e de motocicletas, que poderiam parar esta semana.
O Rio Negro atingiu ontem o mais baixo nível já registrado em Manaus, a capital do Amazonas. O índice medido às 5h40 de ontem apontou cota de 13,59 metros, superando em quatro centímetros a maior seca histórica anterior, registrada em 2010, de 13,63 metros. Em um dia, o Negro, que forma junto com o Solimões o Rio Amazonas, baixou mais de dez centímetros, reduzindo a vazão em um ritmo sem precedentes. Desde sábado, 14, a redução até ontem havia sido de 32 centímetros.
Os números indicam que a queda do nível, além de ser a maior, acontece de forma mais rápida. As medidas do fim de semana foram menos de 13 cm no sábado, menos 9 cm no domingo e menos 10 cm nesta segunda. No último dia 10, o Rio Negro tinha cota de 14,29 m, indicando baixa de 70 centímetros em seis dias.
A seca extrema é a pior em mais de um século, desde quando o nível do grande rio amazônico começou a ser monitorado. Até hoje, as piores secas do Rio Negro tinham acontecido em 2010 (13,63 m), 1963 (13,64 m) e 1906 (14,20 m). A previsão é de que o rio continue baixando pelos próximos dez dias, já que a estiagem amazônica normalmente se prolonga até o fim de outubro.
A seca histórica acontece dois anos após o Rio Negro ter registrado a sua maior cheia, em 2021, quando a marca de 30,02 metros foi atingida em Manaus. Quatro municípios localizados na calha do rio – São Gabriel da Cachoeira, Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e a capital, Manaus – estão em situação de emergência.
ISOLADOS E SEM ÁGUA. Novo Airão está em situação de alerta. Os maiores problemas são causados pelo secamento de rios e afluentes, deixando comunidades isoladas e sem água potável.
Com a descida das águas, as margens do Rio Negro e os igarapés acumulam toneladas de lixo doméstico, como garrafas PET e sacos plásticos, além de detritos e peixes mortos.
Uma dessas áreas está na Manaus Moderna, zona sul da capital. A Praia da Ponte Negra foi invadida por banhistas neste domingo, 15, mesmo estando interditada para banhos devido à vazante extrema. A Guarda Municipal precisou retirar os banhistas.
ESTRADAS DE AREIA. A baixa drástica do Negro afetou também os afluentes, deixando comunidades isoladas em 38 municípios. O acesso fluvial ficou inviável, pois os cursos d’água viraram estradas de areia.
Alguns municípios, como Rio Preto da Eva, racionam água. As balsas que transportam veículos de cargas deixaram de operar. Nesta segundafeira, o governo do Amazonas fez acordo com empresas de táxi aéreo para garantir o abastecimento de produtos essenciais em locais mais críticos por via aérea.
INCÊNDIOS. A estiagem potencializa outros problemas no Amazonas, como os incêndios florestais. Em todo o Estado, de acordo com boletim divulgado na tarde de domingo, 15, já são 50 municípios em emergência e 10 em alerta.
Ao menos 112 mil famílias – um total de 451 mil pessoas – já foram afetadas pela seca de rios ou por grandes queimadas. De 1.º de janeiro até o dia 13 de outubro, foram registrados 17,6 mil focos de incêndios no Estado. No domingo, mais 99 brigadistas chegaram a Manaus para reforçar o combate aos incêndios.
Ontem, o governo federal anunciou a liberação de R$ 324,3 milhões para ações de saúde, defesa civil e moradia aos afetados pela seca no Estado do Amazonas.
O Ministério da Saúde destinará R$ 224,3 milhões para as prefeituras, dos quais R$ 102,3 milhões terão liberação imediata. Os outros R$ 122 milhões serão liberados em parcelas. O anúncio foi feito pela ministra Nísia Trindade, que visitou Manaus ontem.
Os outros R$ 100 milhões serão destinados aos municípios afetados pela seca que possuem comunidades localizadas em áreas de risco.
Segundo a Associação Amazonense de Municípios (AAM), os recursos vão custear o aluguel de seis mil moradias para abrigar as famílias que ficaram isoladas ou perderam as casas em incêndios.
Baixa no Negro Índice medido ontem em Manaus apontou nível de 13,59 m. Na seca de 2010, foram 13,63 m
CHUVA. Ontem voltou a chover em Manaus, melhorando a qualidade do ar de péssima para moderada, segundo o AppSelva, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Conforme o aplicativo que monitora queimadas e qualidade do ar, em quatro horas, choveu cerca de 31,2 milímetros na capital do Amazonas, contribuindo para diluir a fumaça e melhorar a qualidade do ar. No sábado, já havia chovido 34,2 milímetros em Manaus. Apesar da melhora no ar, os índices ainda são insuficientes para alterar o nível dos rios amazônicos. •
COLABOROU GIOVANNA MARINHO
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2023-10-17T07:00:00.0000000Z
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