Execução no meio da rua em SP
Grupo com 2 CACs achou suspeitos de roubar carro
CAIO POSSATI MARCELO GODOY
Cinco homens caçaram ladrões que haviam roubado o carro de um deles. Um suspeito foi morto a tiros, o outro fugiu. O grupo foi preso em flagrante.
Um grupo com cinco homens, entre os quais dois CACs (caçadores, atiradores e colecionadores de armas), caçou ladrões de um carro, matou um suspeito e foi preso em flagrante anteontem, no bairro Parque dos Príncipes, zona oeste de São Paulo. Os acusados transportavam o corpo da vítima na caçamba de uma picape Dodge-Ram quando foram abordados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Os tiros e a ação de arrastar o baleado pela rua até o veículo foram flagrados por duas câmeras de vídeo cujas imagens foram apreendidas pela polícia. O Estadão teve acesso aos vídeos. Os acusados são empresários e autônomos, segundo o delegado Leonardo Schwartz De Simone, do 14.º Distrito Policial (Pinheiros), que registrou o caso.
O advogado Daldete Sindeaux, que representa os acusados, questionou a prisão dos cinco, pois nem todos atiraram. Afirmou ainda que as armas tinham registro e documentação em dia. “O delegado decidiu manter os cinco presos em flagrante delito sob acusação de homicídio consumado e tentado.”
Conforme as investigações, tudo começou quando o empresário Laércio das Neves, de 63 anos, foi ao mercado, na manhã de segunda-feira. Ele foi abordado por dois ladrões, que roubaram o seu carro, um T-Cross. Laércio, que possui o registro de CAC, voltou para casa e comunicou o roubo à PM.
DI SPOSITI VO. Laércio tinha comprado o veículo de um amigo, Renato Gomes Filgueiras, de 43 anos. Ao saber do roubo, Filgueiras avisou que seria possível localizar o carro por meio de um aplicativo de celular.
Rastreador Após ter carro roubado, vítima decidiu tentar recuperá-lo com a ajuda dos filhos e de amigos
Com o dispositivo de rastreamento, Laércio, seus filhos Alexandre, de 35 anos, e Leandro, de 20, Filgueiras e um outro CAC, Erivaldo de Oliveira, de 46 anos – amigo de Laércio – decidiram rumar à Rua Eusébio de Paula Marcondes, onde o T-Cross estava parado. Ali, uma dupla de ladrões havia descido, pouco antes, do carro roubado e abordado um entregador do Mercado Livre, iniciando novo assalto.
As imagens obtidas pela reportagem mostram os ladrões retirando mercadorias e passando para o T-Cross, quando o grupo que os buscava na Dodge-Ram de Erivaldo, com os cinco homens a bordo, chega e emparelha o veículo com os assaltantes.
Um dos ladrões já estava ao volante do T-Cross, com o veículo ligado, preparando-se para fugir. O outro suspeito estava de pé, ao lado do veículo. Tratavase de Carlos Antônio Rodrigues Regis, de 36 anos. Ao ver dois homens armados descerem da Dodge-Ram, Regis ergueu as mãos em sinal de rendição. Mesmo assim foi baleado. Seu comparsa acelerou e fugiu. Um dos homens armados tentou detêlo, atirando, mas não conseguiu.
Cambaleante, o assaltante deixado para trás tenta sair dali e se dirige à entrada de um prédio. Lá, uma segunda câmera gravou quando um novo tiro foi disparado em sua direção. O efeito foi imediato: Regis caiu no chão. O atirador se aproximou, agarrou-o pelo braço e o arrastou até a picape. O corpo foi jogado para cima da caçamba. Depois, o atirador retornou e apanhou o que seria uma arma de brinquedo. Teria sido com ela que os ladrões abordaram o entregador do Mercado Livre.
FUGA. A Dodge-Ram partiu em velocidade. Avisada por testemunhas, uma equipe da GCM foi atrás da picape e a achou na Rua Iracema Senna Cerqueira dos Santos. Segundo os guardas, o grupo disse que tentava socorrer um baleado que estava na caçamba – Regis, na verdade, estava morto. Os guardas apreenderam as armas: uma pistola de calibre 9 mm, de Laércio, e outra de calibre 380, de Erivaldo. O T-Cross foi encontrado horas depois, abandonado.
Ao assistir às imagens, o delegado De Simone formou sua convicção de que Regis não reagiu ou esboçou reação. Conforme o delegado, Filgueiras foi um dos atiradores. Ele não é CAC e já possui antecedente por roubo. O outro a aparecer nas imagens armado seria Laércio. “Aparentemente, quem efetuou mais disparos é o Renato. O Laércio desembarca depois e dá pra ver o armamento na mão dele. Pedi exame residuográfico, para saber quem realizou o disparo, e a perícia na arma.” Segundo o delegado, todos vão responder pelo crime. “Uns como autores e outros como partícipes.”
O advogado Daldete Sindeaux discorda. “Me causou estranheza ( todos estarem respondendo pelo mesmo crime)”, afirmou. “Dois teriam feito os disparos e outros três estavam dentro do veículo. No entendimento da autoridade policial, os demais foram partícipes, o que eu discordo plenamente. Eles não tiveram participação.” Os acusados afirmaram que agiram em legítima defesa.
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2024-12-11T08:00:00.0000000Z
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