Suspensão, que tem apoio do governo, ocorre após empresa vetar compra na França de produto vindo do Mercosul.

Frigoríficos brasileiros pararam de fornecer carnes ao grupo Carrefour no Brasil – o que engloba as bandeiras Carrefour, Atacadão e Sam’s Club – após a decisão da empresa na França de não vender mais o produto proveniente do Mercosul. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a interrupção no fornecimento já afetou pelo menos 150 de 667 pontos de venda (entre hipermercados, supermercados e lojas de atacado). Cerca de 50 caminhões com carne tiveram as entregas suspensas até a tarde de ontem.

A estimativa do mercado é de que, mantido esse embargo, em até três dias poderia ocorrer desabastecimento total dos supermercados do grupo, já que se trata de mercadoria resfriada ou congelada. Procurado, o Carrefour Brasil negou desabastecimento, mas não se manifestou sobre a suspensão das entregas.

Entre os frigoríficos que aderiram à interrupção, estão JBS, Marfrig e Masterboi. Somente a Friboi, marca de carnes bovinas da JBS, responde por 80% do volume fornecido à varejista, sendo que no caso da bandeira Atacadão a marca representa 100% do fornecimento. Procuradas, JBS e Marfrig não comentaram o assunto.

O movimento ocorre após o presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciar na quarta-feira passada que não comprará mais carnes do Mercosul para abastecer as lojas na França. Segundo ele, a medida foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que são contrários à proposta de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

Na sexta-feira, outro grande grupo varejista francês, o Les Mousquetaires, seguiu na mesma direção do Carrefour. Farmnews, a França comprou de janeiro a outubro deste ano menos de 40 toneladas de carne bovina in natura do Brasil, o equivalente a 0,002% do total embarcado pelo País no período (de 1,41 milhão de toneladas). O receio dos produtores brasileiros, porém, é que esse embargo prejudique a imagem do produto no exterior e abra

“Aqui não é colônia francesa. (...) Se eu não posso fornecer para lá, não forneço para cá também”

Carlos Fávaro Ministro da Agricultura

Thierry Cotillard, CEO da rede, falou em apoio aos produtores franceses e em soberania alimentar. Tanto Bompard quanto Cotillard sugeriram também que os produtos importados não seguiriam as mesmas regras sanitárias e ambientais que são exigidas dos produtores locais.

Segundo dados do site especializado caminho para atitudes parecidas em outros países da Europa. Por ora, especialistas como o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral consideram esse risco remoto (mais informações nesta página).

ENDOSSO DO GOVERNO. A decisão de suspender o fornecimento de carnes para o Carrefour no Brasil ganhou o apoio do governo. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que não pediu que os produtores cortassem o fornecimento, mas ressaltou ter parabenizado o setor pela medida. “Aqui não é colônia francesa”, criticou Fávaro. “As indústrias daqui tomaram a atitude bonita de não fornecer porque, se eu não posso fornecer para lá, não forneço para cá também. Eles têm o apoio do governo, do Ministério da Agricultura.”

Já o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP-PR), classificou o anúncio do CEO do Carrefour como “uma tentativa de lacração dos franceses” para atender aos anseios dos produtores locais. Antes mesmo da informação de ontem sobre o movimento dos frigoríficos, Lupion já defendia que o setor de proteínas parasse de fornecer carnes ao Carrefour e demais marcas do grupo no Brasil.

“Sugiro, e já conversei com as entidades produtoras de proteína, que parem de entregar seus produtos para o Carrefour e demais marcas dessa empresa aqui no Brasil, para que eles entendam o que é respeitar o produtor rural brasileiro”, disse ele, em vídeo postado na sexta-feira. •