O desmonte da ordem global
celso. mi ng@ estada o. com COMENTARISTA DE ECONOMIA
Não é um Zé-qualquer quem afirma que a ordem econômica mundial mudou com a posse de Donald Trump. Foi a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, quem expôs esse diagnóstico, no início de seu discurso de abertura da reunião de primavera do FMI.
É afirmação que impõe duas perguntas importantes: qual é a ordem econômica que sucede à que acabou? O dólar será substituído por outra moeda global de pagamentos e de reserva?
A estrutura vigente até agora, que se supõe revogada, começou em 1944, com a Conferência de Bretton Woods. A Grande Depressão dos anos 30 e a Segunda Guerra Mundial deixaram grande parte dos países impossibilitados de pagar suas contas. A solução encontrada em Bretton Woods, cidade no Estado de New Hampshire, Estados Unidos, que reuniu dirigentes de 44 países aliados, teve três pilares: atrelar o dólar ao ouro, à proporção de 35 dólares por onça-troy (31,1035 gramas de ouro) e, assim, garantir a estabilidade do sistema financeiro global; a criação do FMI que forneceria recursos quando um país sócio quebrasse; e a criação do Banco Mundial para financiar projetos em países em desenvolvimento.
O sistema exigia o que se convencionou chamar de Consenso de Washington: administração fiscal ortodoxa também pelos Estados Unidos para assegurar a convertibilidade do dólar ao ouro e a criação de superávits nas contas externas, obtidas no regime de livre comércio e de livre fluxo de capitais. Não foi o que aconteceu. As despesas públicas dos Estados Unidos cresceram muito mais.
Quase três décadas depois do Acordo de Bretton Woods, os EUA não puderam garantir a troca de dólares por ouro na proporção combinada: os estoques de ouro de Fort Knox estavam se esvaziando. Em agosto de 1971, o presidente Richard Nixon acabou unilateralmente com o padrão ouro. O dólar passou a ser a moeda de reserva do mundo, baseado apenas na confiança.
O sistema conseguiu reequilibrar-se porque a enorme demanda por títulos do Tesouro dos Estados Unidos (treasuries) manteve a primazia do dólar, mesmo levando-se em conta que, de 1971 até a última quintafeira, passaram a ser necessários mais de US$ 3,3 mil comprar a mesma onça-troy.
O rombo fiscal dos Estados Unidos não para de crescer. Apenas de juros da dívida, passaram a pagar mais de US$ 1 trilhão por ano. Trump admitiu que a hegemonia americana está derretendo. Em apenas algumas semanas de governo, desmontou o que estava em vigor e se propôs a restabelecer os tempos de glória: “Make America Great Again”.
Fica para este domingo uma avaliação da pretendida virada e do futuro do dólar como moeda de reserva do mundo. •
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