O Estado de S. Paulo

A ansiedade na era da hiperconectividade

Amanda Graciano @amandagraciano.com

Vivemos tempos difíceis, e a ansiedade se tornou uma presença constante e silenciosa na vida de muitos. É como um ruído de fundo que nunca desaparece, sempre presente, sempre sutilmente corrosivo. Se houvesse um ranking dos países mais ansiosos, o Brasil, infelizmente, estaria no topo, com 26,8% da população diagnosticada. Entre os jovens de 18 a 24 anos, esse número sob para alarmantes 31,6%. Nunca estivemos tão ansiosos, tão preocupados com o futuro e tão despreparados para lidar com essa realidade.

Parte do problema reside na forma como nossa sociedade encara a saúde mental. Existe um estigma ainda muito forte que impede as pessoas de buscarem ajuda ou de falarem abertamente sobre suas lutas. A ansiedade é muitas vezes vista como uma fraqueza, algo a ser superado individualmente, sem reconhecer que é um reflexo das condições em que vivemos. A pressão social e econômica contribui significativamente para esse cenário.

Na era da hiperconectividade, essa ansiedade se intensifica. O celular, sempre ao alcance das mãos, vibra a cada notificação, trazendo um novo motivo para a mente se preocupar. O fluxo incessante de informações, muitas vezes negativas, vira um gatilho constante. Mesmo quando queremos nos desconectar, algo nos puxa de volta. As redes sociais, que deveriam nos conectar, frequentemente nos fazem sentir mais isolados, alimentando comparações intermináveis com vidas que parecem mais perfeitas do que as nossas.

Mas será que a ansiedade precisa realmente ser uma companheira constante? A verdade é que, embora pareça inevitável, podemos enfrentá-la. Não se trata de eliminar todas as preocupações, mas de aprender a viver com elas de forma mais saudável. O primeiro passo é reconhecer que a ansiedade não é um problema individual, mas um reflexo de um mundo que nos exige demais. Precisamos abrir espaço para conversas honestas sobre saúde mental, buscando apoio e oferecendo suporte uns aos outros. Se não podemos mudar o ritmo frenético da sociedade de um dia para o outro, podemos, ao menos, começar a mudar a forma como lidamos com ele.

Talvez a maior lição que podemos tirar dessa era de ansiedade é a importância de desacelerar, de redescobrir o valor da calma e de aprender a estar, realmente, presentes. •

CONSELHEIRA DO PACTO GLOBAL DA ONU E MANAGING PARTNER NO EXPERIENCE CLUB

O fluxo incessante de informações virou um gatilho constante para a ansiedade

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2024-08-21T07:00:00.0000000Z

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