O Estado de S. Paulo

Bolsonaro troca chefia da Petrobras pela 3ª vez e quer mudar política de preços

E&N Pressão dos reajustes de combustíveis José Mauro Coelho ficou no cargo por 40 dias; Caio Paes de Andrade, aliado de Paulo Guedes, foi escolhido para substituí-lo

COLABORARAM MARLLA SABINO E DENISE LUNA ADRIANA FERNANDES

Após 40 dias no cargo, José Mauro Coelho foi demitido ontem pelo presidente Jair Bolsonaro do comando da Petrobras. A estatal terá agora o quarto presidente no atual governo. O escolhido para substituir Coelho é Caio Paes de Andrade, secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia e ligado ao ministro Paulo

Guedes. A fritura de Coelho foi antecipada pelo Estadão há 11 dias. A Petrobras estava perto de anunciar novo reajuste para a gasolina, o que Bolsonaro quer evitar – o governo pretende alterar a forma de reajuste dos combustíveis. Além da presidência, o ministro Adolfo Sachsida (Minas e Energia) pretende mudar o conselho de administração e, em seguida, os diretores da estatal.

O presidente Jair Bolsonaro demitiu ontem o terceiro presidente da Petrobras em seu governo, José Mauro Coelho, com exatos 40 dias no cargo. A fritura de Coelho foi antecipada pelo Estadão no dia 13 de maio, assim como a preferência por Caio Paes de Andrade, secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia, nome ligado ao ministro Paulo Guedes.

A demissão é a primeira de uma série de mudanças que o governo fará. O ministro de Minas Energia, Adolfo Sachsida, promoverá alterações no conselho de administração da Petrobras.

O conselho foi montado pelo ex-ministro Bento Albuquerque, almirante de esquadra demitido por Bolsonaro logo após reajuste do diesel. A saída de Coelho abre caminho também para trocas na diretoria da empresa. A Petrobras estava perto de anunciar novo reajuste para a gasolina, e Bolsonaro queria evitar novos aumentos neste momento de alta volatilidade do preço internacional.

Para isso, o presidente pretende alterar a forma de reajuste. Uma fonte do governo disse que é uma questão de sequência até chegar às mudanças que o presidente pretende. O governo não pode mandar diretamente na decisão da empresa sobre os preços, mas pode alterar o conselho e o presidente, que mudam a diretoria. O passo seguinte é a mudança na política de preços, como quer Bolsonaro. Ele quer que os reajustes sejam mais esparsos e que haja trégua nos preços enquanto o mercado de petróleo estiver vivendo alta volatilidade por causa da crise de energia provocada pela guerra da Rússia com a Ucrânia.

A demissão de Coelho já era dada como certa no círculo mais fechado de auxiliares do presidente Bolsonaro desde sábado, embora investidores vissem o movimento como “loucura” pelo pouco tempo à frente da petroleira.

O anúncio ocorreu após o fechamento do mercado, quase 22h. Fontes da indústria de óleo e gás, que não apostavam na saída de Coelho em tão pouco tempo, avaliam que a troca é turbulência desnecessária mais uma vez causada pelo governo. A avaliação é de que, se o governo realmente quiser trocar os rumos da empresa, terá de nomear novos conselheiros, dispostos a seguir as suas ordens, e não a votar de acordo com “os melhores interesses da empresa”.

Sachsida ainda quer avançar nas privatizações da Petrobras e da PPSA, a estatal responsável pela parte da União no pré-sal.

A queda de Coelho foi surpresa para integrantes do conselho de administração, que “estavam no escuro”, segundo o conselheiro Marcelo Mesquita disse ao Estadão/broadcast. “Não sabemos de nada, fomos informados há poucos minutos pelo documento do MME. Não conheço o Caio, não sabemos nada, estamos no escuro”, disse.

Segundo Mesquita, o nome do indicado pelo governo ainda terá de passar pelo crivo do conselho de administração, que vai analisar se preenche todos os requisitos exigidos pelo estatuto da companhia, como ter administrado uma grande empresa nos últimos anos. Andrade é formado em Comunicação Social pela Universidade Paulista, pós-graduado em Administração e Gestão pela Harvard University e mestre em Administração de Empresas pela Duke University.

A substituição ocorre no momento em que Bolsonaro, que concorre à reeleição, está envolvido em esquema de liberação de verbas para compra de caminhões de lixo com indícios de superfaturamento. O esquema foi revelado pelo Estadão. •

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2022-05-24T07:00:00.0000000Z

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