O Estado de S. Paulo

Maceió tem novo tremor de terra em bairro onde há mina de sal-gema

Prefeitura decretou estado de emergência após alerta para ‘risco iminente de colapso’ do solo no bairro de Mutange, onde fica mina da empresa Braskem.

GIULIANA MORRONE • COLABOROU MARCIO DOLZAN

A Defesa Civil de Maceió informou que foi registrado às 10h de ontem um novo sismo de 0,6 de magnitude local. A prefeitura da capital alagoana decretou estado de emergência após alerta para “risco iminente de colapso” no bairro de Mutange, onde fica a mina 18 da empresa Braskem. As causas dos tremores de terra nos últimos dias ainda são investigadas pelas autoridades.

“A situação é preocupante, porque a velocidade de subsidência tanto vertical quanto horizontal continua alta, indicando afundamento do solo,” disse o coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Pedro Nobre Júnior. Na geologia, o processo de subsidência se refere ao movimento de afundamento do solo.

Uma capa, agora fina, cobre a cavidade 18, uma mina da Braskem no bairro Mutange. Essa e outras minas foram criadas em decorrência da atividade de mineração para extração de sal-gema, um cloreto de sódio usado para produzir soda cáustica e policloreto de vinila (PVC).

CAVERNAS SOB LAGOA. Essas minas são como cavernas que ficam debaixo de uma lagoa. O topo dessas cavernas pode colapsar a qualquer momento. Os possíveis impactos ambientais são imprevisíveis.

Na noite de quarta-feira, dois integrantes da Defesa Civil Nacional chegaram a Alagoas e se juntaram às equipes do gabinete de crise, criado pelo prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), o JHC. O decreto de emergência é válido por 180 dias.

Pacientes do Hospital Geral Sanatório, no bairro Pinheiro, foram transferidos para outras unidades de saúde como medida de segurança, precaução e prevenção de desastres. Isso porque o hospital fica perto do bairro de Mutange, afetado pela atividade de mineração da Braskem. De acordo com a direção do hospital, a decisão ocorreu em comum acordo com a gestão estadual e municipal. “Efetuaremos o remanejamento dos pacientes internados para outros hospitais, assim como garantiremos a continuidade, em outros serviços, dos pacientes submetidos rotineiramente a sessões de hemodiálise nas dependências de nosso hospital”, informou o hospital em nota.

MONITORAMENTO. A Braskem diz que continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18, no bairro do Mutange. Os dados atuais de monitoramento demonstram que o movimento do solo permanece concentrado na área dessa mina. Em nota, a empresa informou que “a área de serviço da empresa, onde são executados os trabalhos de preenchimento dos poços, está isolada desde a tarde de terça-feira, em cumprimento às ações definidas nos protocolos de segurança”. Os dados colhidos, diz a mineradora, estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades.

A empresa também afirma que apoia a realocação emergencial dos moradores que ainda resistem em permanecer na área de desocupação. A realocação preventiva de toda a área de risco foi iniciada em novembro de 2019 e 99,3% dos imóveis já estão desocupados, segundo a Braskem.

O iminente colapso da mina é reflexo de um problema que existe desde 2018 e afeta diretamente cinco bairros. A principal causa se dá pela exploração de sal-gema pela Braskem durante décadas, segundo relatórios do Serviço Geológico do Brasil. A petroquímica extraía o minério em 35 minas em Maceió. Após o abalo sísmico de 2018, que teve como epicentro o bairro Pinheiro, foi iniciado um processo de preenchimento e estabilização que até agora não foi finalizado completamente e tem previsão de acabar só em 2025. A mina em risco tem 85 m de largura e está a 1,1 mil m de profundidade, segundo estudo do Serviço Geológico do Brasil. A catástrofe pode ser ainda maior, visto que outras duas minas, a de número 7 e a 19, estão bem próximas da 18.

Atividade de mineração Minas foram criadas na região para extração de sal-gema, usado para fazer soda cáustica e PVC

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2023-12-01T08:00:00.0000000Z

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