O Estado de S. Paulo

Greve contra privatizações de Tarcísio prejudica mais de 3 milhões na Grande SP

Movimento de trabalhadores do Metrô, da CPTM e da Sabesp desafia Judiciário e põe em choque candidatos à Prefeitura de SP

• ÍTALO LO RE, RENATA OKUMURA , GIOVANNA CASTRO, FABIO GRELLET E CAIO POSSATI

Convocada pelos sindicatos das respectivas categorias, a greve conjunta contra a privatização do Metrô, da C PT Meda S abespa feto umais de 3 milhões de pessoas ontem na Grande São Paulo. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), principal alvo do movimento, chamou a greve de “política, ilegal e abusiva” e reiterou que os planos de concessão estão mantidos. Nas ruas de SP, o congestionamento chegou a 598 km. Em conjunto, a Justiça do Trabalho aplicou multa de R$ 1,5 milhão aos três sindicatos por terem descumprido decisão. A greve, encerrada ontem, movimentou a disputa entre pré-candidatos à Prefeitura de SP. Guilherme Boulos (PSOL) virou alvo de adversários, entre eles o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Kim Kataguiri (União), informa Pedro Augusto Figueiredo. O Sindicato dos Metroviários é presidido por filiada ao PSOL.

A greve conjunta de 24 horas contra privatizações convocada pelos sindicatos de funcionários da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) afetou mais de 3 milhões de pessoas direta ou indiretamente na Grande São Paulo ontem – só as linhas do metrô paralisadas têm média diária em 2023 de 2,7 milhões de atendidos. Principal alvo da paralisação, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) reiterou que o processo de concessão será mantido e a greve foi “política, ilegal e abusiva”.

Com o rodízio de veículos suspenso, o congestionamento chegou a 598 quilômetros pela manhã, conforme a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Com linhas de trens operadas pela iniciativa privada funcionando (4, 5, 7 e 9) e as demais paradas, houve “peregrinação” por estações e corridas pequenas por aplicativo superavam R$ 100.

PREJUDICADOS. Funcionária de um hospital na região de Santa Cruz, na zona sul, a enfermeira Tatiana Souza, de 41 anos, normalmente vai até a Estação Corinthians-Itaquera, pega as Linhas Vermelha e Azul do Metrô, e chega ao trabalho. O trajeto dura por volta de 45 minutos. “Hoje (ontem), por causa da paralisação, a ideia é ir de CPTM até a Estação Paulista, pegar a Linha Amarela até a Estação Pinheiros, pegar a Linha Esmeralda até a Estação Santo Amaro e, por fim, entrar na linha Lilás para chegar ao trabalho”, disse. O tempo previsto era pelo menos o dobro.

Maria Adelina, de 42 anos, empregada doméstica, decidiu pegar ônibus para chegar ao local de trabalho, no Morumbi. Com dificuldade para conseguir pesquisar o trajeto, ela pediu o celular de um colega emprestado para utilizar a internet. “Atrapalhou bastante. De metrô é tudo mais fácil”, disse. Nas linhas em funcionamento, porém, parte dos passageiros relatou um movimento abaixo do usual. O economista Gianlucca Florencio, de 25 anos, que pega a Linha 9-Esmeralda regularmente, estranhou o movimento. “Hoje está muito vazio”, diz. A situação piorou à tarde, porém, quando uma falha elétrica também paralisou o ramal parcialmente.

SURPRESA. No Metrô Jabaquara, os portões amanheceram fechados, com cartazes de greve e um grupo de metroviários explicando para a população os motivos da paralisação. O movimento de passageiros era pequeno, mas algumas pessoas não sabiam sobre a paralisação e deram de cara com a porta. E mesmo quem estava preparado acabou surpreendido. Moradora do Jardim Santo Antônio, na zona leste, a técnica de enfermagem Katia Angelina, de 38 anos, se planejou para pedir um carro de aplicativo por volta de 5h. A ideia era tentar driblar a greve e chegar a tempo ao trabalho em uma instituição em Indianópolis, na zona sul. Mesmo pedindo com antecedência, a corrida estava dando R$ 170. “Não tinha como pagar isso, então vim de ônibus para a Estação Corinthians-Itaquera para tentar carro de aplicativo daqui”, disse ela, que normalmente vai de Metrô para o trabalho. O expediente começava às 8h. Ao chegar à estação, Katia encontrou o local bem mais cheio que o normal. O preço da corrida estava R$ 70. “Está bem mais alto, mas não tenho o que fazer, vou tirar do meu bolso.”

CONFRONTO. As categorias são contra a privatização das três empresas. Os sindicatos alegam que a transferência das operações, promessa de campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) até 2025, carece de maior discussão com a sociedade e ressaltam que projetos desse tipo podem piorar a qualidade dos serviços. “Queremos o cancelamento de todos os processos de privatização e terceirização das empresas públicas, e exigimos realização de um plebiscito oficial para consultar a população sobre as privatizações das empresas”, disse Camila Lisboa, presidente do Sindicato dos Metroviários.

Pela manhã, Tarcísio de Freitas, definiu a greve como um movimento “político”, “ilegal” e “abusivo”. “Justamente são as linhas concedidas que estão operando. Isso só reforça que estamos na direção certa”, disse Tarcísio. “Vamos continuar estudando concessões e não é um movimento ilegal que nos afastará desse objetivo.”

Já a Justiça do Trabalho triplicou a multa para os sindicatos, caso continuassem a descumprir a liminar concedida na sexta-feira que obrigava os funcionários a trabalharem normalmente durante os horários de pico (das 4h às 10h e das 16h às 21h). A multa pelo descumprimento dessa ordem era de R$ 500 mil a serem pagos conjuntamente pelos três sindicatos envolvidos, e passou para R$ 1,5 milhão. À tarde, o descumprimento continuou e as filas em pontos passaram de uma hora. O Sindicato dos

“Exigimos realização de um plebiscito oficial para consultar a população” Camila Lisboa

Presidente do Sindicato dos Metroviários

Metroviários disse que a decisão judicial é um “ataque ao direito constitucional de greve”.

A suspensão da greve de 24 horas foi aprovada em assembleia encerrada só às 21 horas. Foram 2.952 votos, dos quais 2.331 pelo encerramento da greve e 587 por mantê-la. A proposta de nova paralisação na próxima semana foi recusada por 1.161 metroviários.

“Isso só reforça que estamos na direção certa” Tarcísio de Freitas

Governador de SP

Da zona leste até a sul

Mesmo pedindo com antecedência, uma corrida por aplicativo chegava a custar R$ 170

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2023-10-04T07:00:00.0000000Z

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