Quadruplica o nº de idosos com HIV; uma causa é mais sexo sem proteção
Outra explicação é que pessoas hoje estão mais sexualmente ativas na 3.ª idade; geriatras cobram inclusão do público em campanhas
LAYLA SHASTA
Baixo uso de preservativo está ligado à falta de preocupação com gravidez. Vida sexual do grupo está mais ativa.
No mês de conscientização e luta contra o HIV (vírus da imunodeficiência humana), a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) emitiu um alerta sobre o número de casos de idosos convivendo com o vírus no Brasil. A entidade chama a atenção para dados do Ministério da Saúde (MS): na última década, as notificações de HIV entre pessoas com mais de 60 anos quadruplicaram, passando de 360 registros em 2011 para mais de 1.500 em 2021.
Segundo o último boletim epidemiológico do MS, em 2022 foram registrados 1.951 casos de infecção entre pessoas da terceira idade e, até junho de 2023, dado mais recente disponível, 956 ocorrências foram documentadas.
Embora o HIV seja o agente causador da aids, nem todos os que têm o vírus desenvolvem a síndrome. Por isso, as notificações são distintas. Nesse sentido, em 2022, foram confirmados 2.657 casos de aids entre idosos e, até junho de 2023, foram contabilizados 1.070 diagnósticos.
Ainda segundo o informe, publicado no ano passado, até 2022 a mortalidade devido à doença caiu por uma década em todas as idades, com exceção da faixa de 60 anos ou mais, que mostrou aumento de 19,1%. Conforme a SBGG, idosos ainda enfrentam invisibilidade nas campanhas de prevenção ao HIV e o preconceito prejudica o diagnóstico e a prevenção da mortalidade.
O aumento entre idosos Registros de HIV passaram de 360 em 2011 para mais de 1.500 em 2021, segundo Ministério da Saúde
MOTIVOS DA ALTA. Especialistas apontam diversos fatores para o aumento observado. Os infectologistas Filipe Piastrelli, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, e Sumire Sakabe, do Hospital Nove de Julho, destacam aspectos como o aumento da conscientização sobre o quadro e o maior acesso a diagnósticos, além do crescimento da população idosa no Brasil.
Mas motivos comportamentais também explicam a alta. Para o geriatra e presidente da SBGG, Marco Túlio Cintra, uma das principais razões é o baixo uso de preservativos entre o público idoso, em parte devido à falta de preocupação com a possibilidade de gravidez.
Nesse contexto, o médico reforça: “O preservativo não é apenas um método contraceptivo, mas também uma alternativa bastante eficaz para evitar muitas infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV”, explica no alerta.
Cintra diz que muitos idosos, ao se tornarem divorciados ou viúvos, tendem a se sentir mais livres para explorar novas relações, o que pode levar a um certo descuido em alguns casos.
De acordo com os especialistas, as pessoas mais velhas também estão sexualmente ativas por mais tempo, tanto pelo uso de medicamentos para esse fim quanto pela ressignificação do envelhecimento.
MAIOR RISCO. Fora isso, fatores fisiológicos relacionados ao envelhecimento aumentam o risco de infecção por HIV. A redução da lubrificação natural na vagina e no ânus e a maior fragilidade das barreiras de defesa do organismo, por exemplo, facilitam a entrada do vírus no organismo. •
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2024-12-03T08:00:00.0000000Z
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