O Estado de S. Paulo

Crescem as mortes por transtorno mental ligado ao álcool

Levantamento do ‘Estadão’ mostra alta de 33% de 2019 a 2022, principalmente entre os mais velhos

FABIANA CAMBRICOLI

Média anual de óbitos teve alta de 33% e foi de 6,4 mil, em 2019, para 8,5 mil, de 2020 a 2022. Dados do Ministério da Saúde apontam que problema se agrava depois dos 50 anos. 90% das mortes por transtorno mental ligado a álcool, em 2022, foram de homens

O número de mortes por transtornos mentais associados ao uso abusivo de álcool cresce no País desde o início da pandemia de covid-19, com média de 8,5 mil óbitos anuais de 2020 a 2022, alta de 33% em relação a 2019, cuja média foi de 6,4 mil.

Quando considerada a taxa de óbitos por 100 mil habitantes, também houve alta significativa nos últimos anos. Comparando o número de mortes de 2010 e 2022, anos das últimas duas edições do Censo, o índice subiu 12,6%, passando de 3,71 para 4,18.

Os dados são parte de levantamento feito pelo Estadão no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e mostram ainda que a alta de óbitos pelo consumo abusivo de bebida alcoólica ocorreu sobretudo entre os brasileiros mais velhos, principalmente idosos.

Enquanto entre adultos de até 49 anos houve queda de óbitos por essa causa, entre os a partir de 50 anos a alta foi de 38,7%. Essa faixa etária concentrou, em 2022, 65% das mortes associadas ao uso de álcool – em 2010, o índice foi de 49%.

O envelhecimento populacional explica parte desse crescimento, já que, quando a expectativa de vida era menor no País, mesmo quem abusava do álcool poderia morrer de outra causa antes que a bebida levasse a uma complicação fatal. Mas essa não é a única explicação, segundo especialistas.

EFEITOS DA PANDEMIA. A pandemia teve (e ainda tem) efeitos sobre a saúde mental que levaram muitos a buscar no álcool alívio para sentimentos como luto e solidão.

“Houve aumento de quadros de ansiedade, depressão e transtornos mentais”, diz Ronaldo

Laranjeira, professor titular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Quem usava de forma moderada passou a usar de forma abusiva. Quem usava de forma abusiva foi para um padrão de dependência”, afirma Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).

Outros fatores ajudam a explicar o aumento mais expressivo de óbitos entre os mais velhos. Segundo Mariana Thibes, coordenadora do Cisa e doutora em sociologia, as alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento deixam os idosos mais vulneráveis aos efeitos nocivos do álcool – o metabolismo das substâncias fica mais lento, elevando o risco de danos. “O álcool também pode interagir mal com medicamentos prescritos que muitos idosos tomam para doenças crônicas. O uso indevido pode causar ainda quedas e lesões e piorar o declínio da cognição”, destaca.

Além dos idosos, outro grupo que preocupa os médicos é o das mulheres. Embora 90% dos mortos por transtornos mentais ligados ao álcool sejam homens, especialistas veem um crescimento do consumo abusivo entre o sexo feminino. Para todos os grupos populacionais, outro fator de risco para o consumo abusivo é ter histórico familiar de dependência química. •

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2024-03-04T08:00:00.0000000Z

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