PIB cresceria 0,6 ponto porcentual a mais se o Brasil reduzisse crime
Estudo do FMI mostra como economia do País é prejudicada pela violência acima da média global
LUIZ GUILHERME GERBELLI
Ainsegurança custa caro ao País. Segundo estudo realizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro poderia crescer 0,6 ponto porcentual a mais por ano se o nível de criminalidade recuasse para a média mundial. Em 2021, o Brasil registrou 45.562 homicídios, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o equivalente a uma taxa de 21,26 assassinatos por 100 mil habitantes, quase quatro vezes a média global, de 5,8 por 100 mil habitantes. Em São Paulo, na rua Santa Ifigênia, no centro, o número de empresas caiu de 15 mil para 2,5 mil, conforme a associação de moradores e comerciantes da região, por causa da violência. “O crime afeta a vida de milhões de pessoas e impõe grandes custos sociais”, dizem Rodrigo Valdés, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, e Rafael Machado Parente, economista da instituição.
Na semana passada, o Brasil assistiu a um exemplo clássico de como a violência afeta a economia. Na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, um empresário teve sua loja de equipamentos eletrônicos invadida. Vítima de um centro inseguro, calculou o prejuízo em R$ 300 mil e decidiu fechar o estabelecimento.
Nos últimos anos, o número de empreendimentos comerciais na região despencou. Em 10 anos, a quantidade de empresas caiu de 15 mil para cerca de 2,5 mil, de acordo com o presidente da União Santa Ifigênia, Fabio Zorzo. O movimento, claro, também tem a ver com o fortalecimento do comércio eletrônico, mas passa pela insegurança enfrentada diariamente por empresários.
“A violência, óbvio, vem atrapalhando todo o movimento da região central. Estamos perdendo empregos e empresas”, afirma Zorzo.
De fato, a insegurança tem custado caro ao desenvolvimento brasileiro. O Produto Interno Bruto (PIB) do País poderia crescer 0,6 ponto porcentual a mais ao ano se o nível de criminalidade recuasse para o da média mundial, revela um estudo conduzido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Considerado as nossas estimativas iniciais, elas sugerem que reduzir completamente a lacuna nas taxas de criminalidade entre o Brasil e a média mundial aumentaria o crescimento do PIB real (brasileiro) em 0,6 ponto porcentual, pelo menos por algum tempo”, afirmam Rodrigo Valdés e Rafael Machado Parente, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI e economista do Fundo, respectivamente.
O cenário é bastante delicado para o Brasil, até mesmo quando comparado com os demais países da América Latina como um todo. Na região, a violência tem um impacto econômico um pouco menor, de 0,5 ponto porcentual. “O crime afeta diretamente a vida de milhões de pessoas, impondo grandes custos sociais”, apontam Valdés e Parente.
Nas últimas décadas, sobram exemplos de como a região sofre com a elevada criminalidade. A Colômbia foi um dos casos mais emblemáticos de enfrentamento ao narcotráfico e vê hoje uma volta da violência. No Equador, houve uma onda de violência em janeiro, e o Brasil tem colhido números alarmantes de homicídios.
Em 2021, o País registrou 45.562 homicídios, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o que equivalia a uma taxa de 21,26 assassinatos por 100 mil habitantes. Na Colômbia, essa relação era de 25,67. Os números dos dois países estão bem acima da média mundial, que é de 5,8 homicídios por 100 mil habitantes.
São várias as formas pelas quais a violência afeta a economia, com impactos diretos na produtividade. “E para um País crescer, ele precisa ter produtividade”, diz Daniel Cerqueira, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.l
Em dez anos, número de estabelecimentos comerciais no centro de SP caiu de 15 mil para 2,5 mil
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2024-02-05T08:00:00.0000000Z
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