O Estado de S. Paulo

EUA decidem retomar sanções após Venezuela vetar opositores

Ditadura chavista descumpre pacto ao barrar rivais de Maduro

Os EUA decidiram ontem reativar as sanções ao setor de petróleo e gás da Venezuela, depois de o Tribunal Supremo de Justiça, controlado pelo chavismo, manter a inabilitação política da deputada María Corina Machado e do também opositor Henrique Capriles. O plano é retomar as restrições em abril. A Venezuela classificou a decisão americana de chantagem grosseira e indevida. “Se os americanos derem esse passo em falso, a partir de 13 de fevereiro vamos cancelar a repatriação de migrantes venezuelanos”, respondeu a vicepresidente, Delcy Rodríguez. A retaliação iria contra o interesse eleitoral de Joe Biden, que tenta reduzir o ingresso de venezuelanos nos EUA. Em outubro, a Noruega mediou um diálogo entre chavismo e oposição, com participação de México, EUA, Holanda, Rússia e Colômbia. Os acordos de Barbados previam troca de presos, alívio das sanções e eleições transparentes com participação dos principais opositores.

“Maduro não escolherá o candidato do povo, porque o povo já escolheu seu candidato” María Corina Machado Líder da oposição, que teve seus direitos políticos cassados por 15 anos

Os EUA anunciaram ontem que retomarão as sanções ao setor de petróleo e gás da Venezuela, depois que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) manteve a inabilitação política da deputada María Corina Machado e do também opositor Henrique Capriles. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, as restrições voltarão a partir de abril.

Para o governo americano, o restabelecimento das sanções é consequência da falta de avanços nas negociações entre a Plataforma Unitária, de oposição, e o chavismo, que não permitirá que todos os candidatos presidenciais concorram nas eleições deste ano.

A Venezuela chamou a decisão americana de chantagem grosseira e indevida. A vicepresidente Delcy Rodríguez prometeu retaliar. “Se os americanos derem esse passo em falso, a partir de 13 de fevereiro vamos cancelar a repatriação de migrantes venezuelanos e revisaremos qualquer mecanismo de cooperação existente”, disse.

RESISTÊNCIA.

Na segunda-feira, Corina Machado descartou a possibilidade de desistir de sua candidatura, apesar da sentença do TSJ. “Maduro não escolherá o candidato do povo, porque o povo já escolheu seu candidato”, disse Corina, que teve seus direitos políticos suspensos por 15 anos e classificou a decisão como “grotesca”.

Em outubro, a Noruega mediou um diálogo entre chavismo e oposição, com participação de México, EUA, Holanda, Rússia e Colômbia. Os acordos de Barbados previam troca de prisioneiros, alívio das sanções, eleições transparentes com participação dos principais nomes da oposição venezuelana.

CONSPIRAÇÃO.

Além da inabilitação de candidatos opositores, os EUA questionam a prisão de 36 pessoas, na semana passada, acusadas de envolvimento em cinco “conspirações” para assassinar Maduro. Entre os presos, há três assessores de Corina Machado. “As ações de Maduro, incluindo a prisão de membros da oposição democrática e a proibição de candidatos, são inconsistentes com os acordos firmados em Barbados”, afirmou Miller.

Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o acordo de Barbados continua a ser o mecanismo mais viável para resolver a crise política, econômica e humanitária da Venezuela e realizar eleições competitivas e inclusivas, segundo Miller.

“Isso exige que Maduro e seus representantes respeitem os princípios e garantam que os atores políticos da oposição tenham o direito de escolher livremente seus candidatos nas eleições presidenciais”, concluiu o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

DESVANTAGENS.

A volta das sanções é um baque para o setor de petróleo da Venezuela, que sofre com o sucateamento da estatal PDVSA, devido a má administração e casos de corrupção. A capacidade de produção caiu de 3,4 milhões de barris diários para apenas 700 mil.

A redução da oferta provocada pela guerra na Ucrânia fez com que EUA e União Europeia voltassem a procurar os chavistas para negócios, mas gestão errática da PDVSA prejudicou a negociação.

No entanto, o rompimento do acordo de Barbados também atrapalha os planos do presidente dos EUA, Joe Biden, já que parte da reaproximação entre os dois países tinha como objetivo, segundo analistas, diminuir a imigração ilegal de venezuelanos para a fronteira sul dos EUA, um ponto fraco na campanha de reeleição do presidente americano. •

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2024-01-31T08:00:00.0000000Z

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