Em mais um lance para tentar fortalecer o nome de Guido Mantega para a presidência da Vale, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o ex-ministro é um dos “pouquíssimos brasileiros” que poderiam estar no conselho de administração da companhia. No mesmo horário, às 12h28, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou tuíte em que criticou a Vale pelo acidente de Brumadinho, que ontem completou cinco anos, mas sem citar Mantega. As manifestações ocorrem no momento em que o Planalto tenta conduzir o ex-ministro ao comando da mineradora. Após as postagens, as ações da Vale caíram 2,2% na Bolsa. A permanência de Eduardo Bartolomeo na presidência da mineradora deve ser decidida até terça-feira, com a convocação de uma reunião extraordinária do conselho de administração.

O governo fez mais um movimento ontem para tentar fortalecer o nome de Guido Mantega para a presidência da Vale. Em uma postagem em uma rede social, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o ex-ministro era um dos “pouquíssimos brasileiros” que poderiam estar no conselho de administração da companhia. Exatamente no mesmo horário, às 12h28, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também usou a mesma rede social, o X (ex-Twitter), para criticar a Vale pelo acidente de Brumadinho.

As declarações públicas ocorreram um dia após a divulgação da informação de que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ligou para conselheiros da Vale, em nome de Lula, para defender a indicação de Mantega à chefia da mineradora.

“Hoje faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. Cinco anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada”, escreveu Lula.

Já Gleisi disse que Mantega “não está sendo atacado por defeitos ou erros que tenha cometido”. “É atacado

(e até odiado) por causa da inestimável contribuição que deu à estabilidade, qualidade e crescimento da economia em nosso País.”

A Vale começou ontem a discussão sobre a permanência de Eduardo Bartolomeo na presidência. A decisão deve sair na terça-feira (mais informações na página B2).

Após as duas postagens, as ações da Vale caíram 1,3% no pregão da B3, a Bolsa de Valores brasileira, ontem. Os papéis ainda sofreram mais um revés, após divulgação da condenação da empresa a pagar indenização, ao lado de Samarco e BHP, de R$ 47,6 bilhões pelo acidente de 2015, em Mariana. No final, caíram 2,2%. •

A permanência de Eduardo Bartolomeo na presidência da Vale deve ser decidida até terça-feira com a convocação de uma reunião extraordinária do conselho de administração da mineradora. Ontem, o comitê de pessoas e remuneração da companhia recebeu um estudo sobre o desempenho do executivo. O colegiado é formado por quatro membros do conselho de administração, que tem 13 representantes de acionistas no total.

O documento foi elaborado pela Vila Nova Partners, de São Paulo, uma empresa especializada em recrutar executivos para grandes empresas – no mercado essas companhias são chamadas de headhunters.

A decisão do conselho de administração será tomada só depois de um parecer do comitê de pessoas da empresa. Os 13 membros do conselho são livres para votar pela aprovação ou não da gestão de Bartolomeo, seja em linha com a recomendação do comitê, cujos membros também votam, ou de maneira contrária.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, para redigir o estudo, a consultoria realizou rodadas de conversas com executivos e com os próprios conselheiros sobre a execução das estratégias determinadas para a companhia na gestão Bartolomeo. Também se debruçou sobre outros indicadores de desempenho da Vale. Procurada, a empresa não quis se manifestar.

O sócio fundador da Vila Nova Partners, Fernando Carneiro, tem 23 anos de experiência como headhunter e sua principal área é a sucessão de presidentes de grandes companhias. O Estadão/Broadcast apurou que Carneiro já fez outros trabalhos para a Vale nos últimos 20 anos e tem conhecimento profundo dos processos e entranhas da companhia. Conhece Bartolomeo há vários anos – antes de se tornar CEO, foi diretor executivo da Vale entre 2004 e 2012 e entre 2018 e 2019, ano que assumiu a presidência.

COLEGIADO. O Comitê de Pessoas é formado por dois conselheiros vinculados a acionistas e dois independentes. Os indicados são o executivo Shunji Komai, do conglomerado japonês Mitsui, segundo maior acionista, com 6,3% do capital, e João Fukunaga, presidente da Previ, o fundo de previdência do Banco do Brasil, principal acionista individual da Vale – com 10% em participação direta e indireta. A Previ é crítica à gestão de Bartolomeo. A entidade, porém, não comenta o assunto. O Mitsui também não se manifestou.

Os conselheiros independentes no comitê são Manuel Lino Silva de Souza Oliveira (Ollie Oliveira) e Luiz Henrique Guimarães, exCEO da Cosan, cotado para o posto de CEO no lugar de Bartolomeo, conforme interlocutores da companhia. Ollie é “lead independent director” (LID), aquele que representa os conselheiros independentes. •