O Estado de S. Paulo

Omissão e ‘apagão’ decisório marcam mensagens da área de segurança do DF no 8/1

‘Estadão’ obteve a íntegra de mensagens de WhatsApp de autoridades, que ignoraram alertas sobre riscos de violência

VINÍCIUS VALFRÉ JULIA AFFONSO DANIEL WETERMAN

Nos dias que antecede ramo 8 de Janeiro, a cúpula de segurança do governo do Distrito Federal, incluindo servidores da confiança do então secretário Anderson Torres, sabia que a intenção dos extremistas era chegar à Esplanada para “tomada do poder”. Mas mensagens no principal grupo de WhatsApp dos chefes das forças policiais locais, às quais o Estadão teve acesso, revelam uma série de omissões e avaliações equivocadas sobre riscos de tumulto, reforçadas pela ida de Torres aos EUA no dia 6, além de um “apagão” decisório quando a destruição começou. Segundo relatório da PF, o órgão defendia ação durante os preparativos para a manifestação, que “atentaria contra o Estado Democrático de Direito”, enquanto a Secretaria de Segurança do DF dizia que ato seria“de cunho pacífico ”– percepção que prevaleceu. Cerimônias hoje no Congresso, coma presença do presidente Lula, e no STF vão lembra ruma nodos ataques.

A cúpula da área de segurança do governo do Distrito Federal, incluindo servidores da confiança do então secretário da área, Anderson Torres, sabia que a intenção dos extremistas era chegar à Esplanada para a “tomada do poder”. Diversos alertas sobre o tema foram emitidos, nos dias que antecederam o 8 de janeiro, no principal grupo de WhatsApp dos chefes e diretores das forças policiais do Distrito Federal. As trocas de mensagens revelam série de omissões, avaliações equivocadas sobre riscos e um “apagão” decisório quando a destruição começou. O Estadão teve acesso à íntegra das conversas.

Havia outros grupos de conversas com integrantes de forças de segurança. Mas uma reunião no dia 6, realizada no Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), decidiu que o “Perímetros segurança” serviria para troca de informações necessárias tanto para ações de “monitoramento” de manifestantes quanto para “acionamento” de equipes. A decisão de priorizar o grupo foi comunicada ainda na manhã daquele dia pela coronel Cíntia de Castro, subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).

Além dela, estavam no grupo o número 2 da pasta, delegado Fernando de Sousa Oliveira, secretário executivo da SSP-DF, e a delegada Marília Alencar, chefe da seção de Inteligência da secretaria. O trio era subordinado ao então secretário Anderson Torres. Torres viajou aos Estados Unidos no dia 6, apesar de alertas sobre a possibilidade de tumulto.

Estavam ainda no grupo o comandante da PM, coronel Fábio Augusto Vieira, o comandante do Batalhão de Trânsito, coronel Edvã de Oliveira Sousa, e o comandante do 1º Comando de Policiamento Regional, coronel Marcelo Casimiro Rodrigues, responsável pelo policiamento na região central de Brasília e por tratar de tamanho e de distribuição do efetivo na área. Ao todo eram 31 pessoas. Havia outros representantes da SSP-DF, das polícias Militar e Civil, do Corpo de Bombeiros, do Detran, do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), da Polícia Rodoviária Federal, do Senado, do Supremo Tribunal Federal e do Itamaraty.

EMOJIS. Ainda no dia 6, uma sexta-feira, às 17h, a coronel Cíntia enviou a informação de que o sistema da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) havia identificado

“A movimentação seria por si só um ato criminoso” Delegado Andrei Rodrigues

Diretor da Polícia Federal

1.622 passageiros em 43 ônibus fretados com chegada a Brasília prevista para o fim de semana. O coronel Casemiro e o secretário executivo respondem com emojis de olhos arregalados e polegar para cima.

No sábado, dia 7, as informações indicaram o recrudescimento das ameaças. Logo às 2h01, um servidor identificado como capitão Júnior, do serviço de Inteligência do 1º CPR, relatou a chegada de ônibus ao acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) montado em frente ao Quartel General do Exército. Até o fim do dia, ele informaria placas de 84 coletivos desembarcando manifestantes. ‘ATO CRIMINOSO’. Naquela mesma tarde, uma reunião da cúpula da Polícia Federal com o secretário Fernando Oliveira e a subsecretária Cíntia expôs a “divergência” na percepção sobre os preparativos. Segundo um relatório da PF sobre o encontro, o diretor-geral, Andrei Rodrigues, entendia que “a movimentação seria por si só um ato criminoso, pois atentaria contra o Estado Democrático de Direito”. Por outro lado, os representantes da equipe de Anderson Torres “manifestaram um entendimento diverso, alegando que se trataria de uma simples manifestação de cunho pacífico”.

Após a reunião com a PF não houve mudança na interação do grupo, e as horas seguintes do dia 7 foram de pressão de manifestantes para estacionar em áreas proibidas e para desfazer bloqueios que impediam a chegada de mais pessoas ao acampamento. Apesar da facilidade para remoção do bloqueio do Exército, os servidores se convenceram da “tranquilidade” da movimentação.

Sem que os planos dos acampados tenham sido frustrados pelos militares, extremistas interpretaram o cenário como um aval do Exército à organização. Às 18h05, a coronel Cíntia compartilhou com o grupo o vídeo de um dos manifestantes afirmava ter o apoio do quartel e que o objetivo era tomar a Esplanada.

“Vai sair todo mundo para ir para a Esplanada. Vamos fazer isso hoje, não sei que horas. E amanhã, domingo, e segundafeira também. O Exército está do lado do povo, cuida, está ajudando. Se estivesse contra, não estaria deixando a gente armar barraca. Tem comida, tem banheiro, tem de tudo aqui”, disse.

A subsecretária fez um comentário sucinto sobre a motivação do radical. “Falando de descer hoje à noite a Esplanada! Vamos ficar atentos, senhores”, disse a coronel, sem receber respostas dos demais integrantes do grupo.

‘NORMAL’. Às 23h17, o secretário executivo Fernando Oliveira escreveu pela primeira vez: “Senhores/as, qual a última parcial das ruas? Tudo dentro da normalidade, do esperado?”. O chefe do 1º CPR, Marcelo Casimiro, respondeu que não havia problemas e que a tropa estava atenta. “Tudo normal. Sem problemas. Estamos atentos nas ruas, PMDF em condições. Todos bem orientados”, disse.

Antes da meia-noite, um outro relatório da Inteligência. A informação era a de que uma parte dos acampados queria descer em direção à Esplanada ainda na noite do dia 7, mas que a decisão ficou para o dia seguinte. •

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2024-01-08T08:00:00.0000000Z

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