O Estado de S. Paulo

Exterminador do futuro

Fernando Reinach fernando@reinach.com É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS

No filme de James Cameron, um androide é enviado ao passado para matar uma mulher. Com ela morta, seu filho, que no futuro se tornará um líder, nem sequer vai nascer. É uma maneira retroativa de alterar o futuro. Mas, fora da ficção científica, o futuro é determinado em grande parte pelas atitudes que tomamos no presente. Exterminadores do futuro, no mundo real, são pessoas que tornam impossível o futuro que desejamos.

Bolsonaro é um ótimo exemplo de exterminador do futuro. Seu descaso com a educação vai condenar os jovens a uma vida miserável. Sua política de destruição do meio ambiente vai tornar nosso país um lugar pior. Sua intolerância com qualquer forma de diversidade de opinião e comportamento vai acabar com a argumentação racional. Isso para não falar das armas, da recusa em comprar vacinas, do orçamento secreto, da fome, e da aniquilação da ciência. E para garantir que nosso futuro será moldado por suas ideias bizarras, Bolsonaro esta tentando destruir a democracia para se manter no poder. Desacredita as urnas eletrônicas e o TSE. A população já percebeu suas intenções. Não é sem motivo que sua taxa de rejeição está nas alturas.

Lula é diferente. Ele já exterminou parte de nosso futuro. Sua atuação sobre o futuro já ocorreu. Foi no passado, quando governou o Brasil. O que vivemos hoje é, em parte, o futuro criado pelos governos do PT. A radicalização de hoje e o clima de ódio prosperaram devido à política do nós contra eles. Foi no governo Lula que ocorreu o maior caso de compra de deputados, o maior desvio de dinheiro público já registrado na história da humanidade, e o pior caso de conluio entre empresas privadas e o governo federal. Com quase todos os envolvidos impunes, é impossível para a população acreditar que Lula não sabia de nada, que não deu aval à execução dessas atividades criminosas e que não tenha parte da culpa. E foi isso que iniciou a desconfiança que a população tem hoje do Judiciário. É nessa desconfiança que Bolsonaro nada de braçada. Portanto, não é de estranhar que a taxa

SAB. Fernando Reinach DOM. Renata Cafardo (a cada 15 dias) e Rosely Sayão (a cada 15 dias) de rejeição de Lula também esteja na estratosfera.

Os dois principais candidatos à Presidência têm uma relação com o futuro distante do que a população deseja. É triste, mas talvez seja necessário, no segundo turno, escolher o mal menor. Mas ainda é cedo para pensar no mal menor. O momento atual é de buscar um candidato à Presidência cuja relação com o futuro esteja alinhada com o que desejamos. Que entenda e respeite as regras e as instituições democráticas. Que aceite e fortaleça a divisão das responsabilidades entre os três Poderes. Que consiga conviver e dialogar sem agressão com pessoas de opiniões e comportamentos diferentes, que seja contra a corrupção, que não compre votos, que acredite que o futuro depende da educação, da saúde e da proteção do meio ambiente. Que acredite na ciência e na racionalidade. Só um candidato com essas características tem alguma chance de construir um Brasil semelhante ao que desejamos. Hoje, me parece, esse candidato é a senadora Simone Tebet. •

Dois candidatos à Presidência têm uma relação com o futuro distante do que a população deseja

METRÓPOLE

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2022-08-13T07:00:00.0000000Z

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