O Estado de S. Paulo

Documentos indicam que Trump é investigado por espionagem

Ex-presidente americano ainda é suspeito de obstruir Justiça e de ocultar, remover e danificar documentos federais.

O conteúdo do mandado de busca da operação do FBI na casa de Donald Trump, na Flórida, na segunda-feira, foi revelado ontem pela Justiça americana. Ele indica que o expresidente é investigado por possíveis violações da Lei de Espionagem, relacionadas à ocultação, alteração e destruição de documentos.

O desfecho de ontem, segundo a opinião de vários especialistas, foi resultado de uma manobra jurídica bem executada pelo secretário de Justiça, Merrick Garland. A batida do FBI na casa de Trump, denunciada pelo próprio ex-presidente em suas redes sociais, na segundafeira, causou um terremoto político nos EUA.

Trump denunciou a blitz como uma “invasão”, “ocupação” e “ataque”. “Até arrombaram meu cofre”, disse o ex-presidente. Nas primeiras 24 horas, o secretário de Justiça e o FBI se mantiveram em silêncio e não responderam às acusações.

ATENTADO.

Senadores republicanos acompanharam a fúria do ex-presidente, acusaram o FBI de abuso de poder, exigiram saber quem assinou o mandado de busca e desafiaram Garland a divulgar o documento. A linguagem agressiva incendiou as redes sociais, com alguns apoiadores mais extremistas de Trump falando em “guerra civil”.

O FBI identificou um aumento do número de ameaças e teve trabalho para conter um ataque à sede de seu escritório em Cincinnati, no Estado de Ohio, na quinta-feira. Ricky Shiffer, de 42 anos, um fanático trumpista que participou da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, tentou entrar no prédio armado com um fuzil AR-15 – acabou morto.

Diante do desafio dos republicanos, Garland fez exatamente o que eles pediram. Convocou uma coletiva de imprensa e disse que foi ele quem assinou o pedido de busca. O secretário de Justiça revelou ainda que Trump tinha uma cópia do mandado – que ele poderia ter revelado quando quisesse. Por fim, anunciou que revelaria o conteúdo e a lista de documentos apreendidos – a menos que o ex-presidente apresentasse alguma objeção nos tribunais.

REVELAÇÕES.

Vários juristas acreditam que Trump contava com a tradicional política do Departamento de Justiça, de não comentar investigações em andamento, o que daria caminho livre para o ex-presidente criar a própria narrativa sobre o caso. Garland, ao revelar o conteúdo dos documentos, mostrou exatamente o que está investigando e a lista de documentos surrupiados da Casa Branca.

De acordo com o inventário da retirada, o FBI retirou da mansão de Trump 20 caixas com 11 conjuntos de documentos, 4 deles marcados como ultrassecretos e outros restritos que só poderiam ser lidos em locais específicos e seguros.

A primeira reação de Trump foi alegar que ele havia retirado o status de secreto de todos os documentos. Mas especialistas disseram que nenhum presidente tem poder para mudar a classificação de alguns documentos. Mais tarde, o ex-presidente culpou a Administração de Serviços Gerais (GSA), que teria transportado os documentos por engano. A direção da GSA, porém, afirmou que só transportou material sob orientação específica de Trump.

CRIMES.

Segundo o New York Times, que teve acesso aos documentos, eles contêm possíveis violações da Lei de Espionagem, que proíbe a retenção não autorizada de informações de segurança nacional que possam prejudicar os EUA ou ajudar um adversário estrangeiro.

Outra violação citada no mandado é a possível destruição ou ocultação de documentos para obstruir uma investigação. Por fim, Trump teria descumprido outro artigo, que proíbe a alteração ou falsificação de documentos. Todos os crimes têm penas que variam de 3 a 20 anos de prisão. •

NYT

Trump em perigo Documentos mostram exatamente o que o Departamento de Justiça está investigando

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2022-08-13T07:00:00.0000000Z

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