O Estado de S. Paulo

Jatos sobrevoam Taiwan, que acusa China de simular invasão

Navios de guerra e 14 caças entram em território taiwanês no terceiro dia seguido de exercícios militares chineses

Taiwan acusou ontem a China de simular a invasão da ilha, depois que 14 caças e vários navios de guerra cruzaram a linha mediana do estreito que separa os dois territórios. Os movimentos ocorreram no terceiro dia seguido de exercícios militares chineses, que cercaram Taiwan e vêm disparando munição real em resposta à visita a Taipei da presidente da Câmara de Deputados dos EUA, Nancy Pelosi.

A Força Aérea taiwanesa mandou para os céus da ilha vários caças para deter os aviões chineses. Analistas temem que as manobras da China, que devem ser concluídas hoje, visam o bloqueio naval e aéreo de Taiwan.

As Forças Armadas taiwanesas emitiram um alerta, enviaram patrulhas aéreas e navais ao redor da ilha e ativaram sistemas de mísseis terrestres em resposta aos exercícios chineses. Segundo o Ministério da Defesa de Taiwan, os radares espalhados pela ilha detectaram vários aviões e navios realizando atividades na região. Os exercícios foram considerados um “ataque simulado”, de acordo com o governo taiwanês.

O Ministério da Defesa da China disse que os exercícios militares estão sendo realizados, no mar e no ar, “conforme planejado, a norte, sudoeste e leste de Taiwan”, com foco em “testar as capacidades” de seu sistemas de ataque terrestre e marítimo.

VISITA. A crise no Estreito de Taiwan foi desencadeada pela viagem a Taipei da presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, mesmo a contragosto da China, que não reconhece a soberania de Taiwan.

Na quarta-feira, Pelosi se tornou a representante de mais alto escalão do governo americano a visitar Taiwan desde 1997, quando o republicano Newt Gingrich, que ocupava o mesmo cargo de Pelosi na época, também esteve em Taipei.

Ontem, os chineses divulgaram o vídeo de um piloto gravando imagens da costa e das montanhas da ilha, mostrando como os caças da China chegaram perto de Taiwan. O Comando

Leste do Exército chinês também compartilhou uma foto tirada de um navio de guerra patrulhando o litoral da ilha.

A emissora estatal chinesa CCTV informou que, nos últimos dias, mísseis chineses sobrevoaram pela primeira vez o território taiwanês – cinco deles caíram em águas territoriais japonesas, o que foi visto como uma mensagem de Pequim para que o Japão não se envolva no conflito.

Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, acusou ontem os EUA de interferir nos assuntos internos de Pequim. Chunying afirmou que o governo americano deveria ter impedido a visita de Pelosi. Segundo

ela, a Casa Branca deveria parar de minar a política de “Uma China” – uma referência ao acordo que remonta aos anos 70, que sustenta que os países podem manter relações diplomáticas formais com China ou Taiwan, mas não com ambos.

Observadores internacionais divergem sobre as intenções de Pequim. John Culver, ex-analista da CIA para a Ásia, acredita que o objetivo da China seja mudar o status quo. “Acho que este é o novo normal”, disse ele, durante seminário organizado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. “Os chineses querem mostrar que um limite foi ultrapassado com a visita de Pelosi.”

INTIMIDAÇÃO. O Pentágono e a Casa Branca acreditam que a intenção da China seja intimidar os taiwaneses, mas não a ponto de desencadear um confronto direto. Muitos analistas, no entanto, temem que o jogo de provocação possa escalar a tensão, aumentando o risco de uma guerra.

“Este é um cenário difícil de lidar”, disse Bonny Lin, analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington. “Quando um exercício militar pode ser considerado um bloqueio? Quem deve ser o primeiro a responder? Taiwan? Os EUA? Nada disso está claro”, disse.

NACIONALISMO. Esta semana, muitos apontaram para o fato de Pequim estar usando a crise em Taiwan de olho na audiência interna, principalmente nos nacionalistas chineses, que vêm criticando nas redes sociais a resposta “branda” do governo.

O Partido Comunista da China usa o nacionalismo como ferramenta de governo desde os tempos de Mao Tsé-tung. Xi Jinping, atual líder, reivindicará um terceiro mandato como presidente no congresso do partido, em novembro, e não pode prescindir de apoio.

Exercícios militares

Origem da crise foi a visita a Taiwan da presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi

INTERNACIONAL

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2022-08-07T07:00:00.0000000Z

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