O Estado de S. Paulo

Por falta de casas, Estônia abriga em balsas refugiados da Ucrânia

Balsa de 171 metros de comprimento alugada pelo governo estoniano vira acampamento provisório para quase 2 mil ucranianos

PATRICIA COHEN • AUGUSTO CALIL TRADUÇÃO DE

A loja no Deck 7 foi transformada em armário, com malas empilhadas na seção de perfumaria e as geladeiras cheias de embalagens de alimentos. O cassino desativado virou point dos adolescentes. E na casa noturna Starlight Palace, no Deck 8, as mulheres se encontram para costurar redes de camuflagem para enviar aos soldados ucranianos.

“Isso faz eu me sentir mais próxima deles”, afirmou Diana Kotsenko, enquanto costurava com sua filha de 2 anos, Emilia. As duas vivem há três meses na Isabelle, um ferryboat de 171 metros de comprimento alugado pelo governo estoniano para abrigar alguns dos 48 mil refugiados que chegaram da Ucrânia.

URGÊNCIA. A embarcação, que antes transportava passageiros entre Estocolmo e Riga, na Letônia, está atracada no Porto de Tallin, capital da Estônia. Suas 664 cabines abrigam 1,9

mil pessoas – a maioria mulheres e crianças. Eles representam uma minúscula fração dos 6,3 milhões de ucranianos que fugiram da guerra.

Isabelle foi alugada em abril, por quatro meses, da Tallink, empresa de transporte marítimo estoniana, para servir de abrigo de emergência. Mas, sem ter onde colocar mais gente, o governo estendeu o contrato até outubro.

A crise de habitação tem criado pressão na Europa e no Reino Unido. Casas baratas são escassas e os aluguéis estão aumentando.

Na Escócia, o governo suspendeu a ajuda a refugiados ucranianos em razão da falta de habitações. Na Holanda, os refugiados dormem sobre a grama de um asilo superlotado no vilarejo de Ter Apel.

MORADIA. Entre os desafios que os ucranianos enfrentam, o mais urgente é o acesso à moradia, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – o que tende a piorar com a inflação. “Evidências sugerem que a falta de habitação

é uma das principais razões para os refugiados retornarem para a Ucrânia”, diz o documento.

Por hora, os governos têm feito de tudo: alugam hotéis e financiam hospedagens em casas. Mas, incapazes de atender a demanda, estádios, contêineres, tendas e até navios estão sendo usados como moradia provisória.

Em Tallin, Natalie Shevchenko vive no barco desde abril. Ela tentou, mas não encontrou um apartamento que pudesse pagar. Psicóloga em Kiev, trabalha com mães e crianças a bordo, ajudando-as a se ajustar. “Vivemos em uma grande comunidade”, disse.

Shevchenko divide uma claustrofóbica cabine com banheiro, no sexto andar, com uma mulher até então desconhecida. O espaço entre as camas é mais estreito do que um corredor de avião. Malas, sapatos e caixas ficam enfiados debaixo das camas. Uma corda pendurada nas paredes serve de varal.

APERTO. “Aqui é a cozinha”, afirma Shevchenko, sorrindo, apontando para uma prateleira com garrafas de água e refrigerante. Um vaso de flor, que ela ganhou de aniversário, enfeita a janela. “Temos sorte de ter janela”, afirmou. Algumas cabines não têm, o que é um problema para quem se abrigou em bunkers na Ucrânia. “Alguns têm ataques de pânico.”

Mais adiante fica a cabine que Olga Vasilieva e seu filho de 6 anos dividem com outra mãe e filho. As mulheres usam as camas de cima dos beliches para guardar brinquedos, malas e guloseimas, e dormem com os filhos nas camas de baixo. As cabines maiores são destinadas a famílias com três crianças ou mais.

Moradias improvisadas Crise de habitação nos países da Europa deve piorar com guerra na Ucrânia e alta da inflação

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2022-08-05T07:00:00.0000000Z

2022-08-05T07:00:00.0000000Z

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