O Estado de S. Paulo

Fertilizantes e defensivos têm preço recorde

GASTOS COM FERTILIZANTES UTILIZADOS NAS LAVOURAS SUBIRAM QUASE 100% EM UM ANO-SAFRA

A guerra entre Rússia e Ucrânia acendeu um sinal de alerta no Brasil, sobre o risco de se iniciar o plantio da safra 2022/23, em setembro, sem a quantidade necessária de adubos. Isso porque a Rússia é a maior fornecedora do insumo para a agricultura brasileira, contribuindo com 23% do volume importado anualmente pelo País. Entretanto, após quatro meses de conflito no Leste Europeu, os riscos de desabastecimento caíram consideravelmente, avaliam analistas do setor, já que a chegada de produtos russos está mantida. “Talvez haja aperto maior na oferta, especialmente em fertilizantes potássicos, pela expectativa de diminuição de entrada de produtos russos nos próximos meses, mas não desabastecimento. É preciso acompanhar o desempenho das entregas daqui para a frente”, avalia a analista de Fertilizantes do Itaú BBA, Annelise Izumi.

Se, por um lado, o medo da falta de fertilizantes para uso na safra 2022/23 ficou, em grande parte, para trás, por outro, entretanto, produtores sentem cada vez mais o forte impacto do aumento expressivo dos custos. A adubação da próxima safra será a mais cara da história, calcula a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Os preços dos insumos subiram mais do que os das commodities agrícolas e, no consolidado da safra, ficarão no maior patamar da história”, aponta a coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da CNA, Natália Fernandes.

Na comparação com a temporada anterior, os adubos se valorizaram entre 40% e 117%. O preço internacional do cloreto de potássio (KCL) aumentou 117,6%, enquanto o do fosfato monoamônico (MAP) avançou 37,8% e o da ureia, 57,4%, de acordo com dados do projeto Campo Futuro, da CNA. Os números consideram as cotações de fevereiro a abril de 2022 ante igual período do ano passado – meses em que comumente grande parte dos adubos é adquirida. Assim, os gastos com fertilizantes para a nova safra de soja devem ser 83% maiores, enquanto para a produção de milho no verão tendem a subir 93% e, para cereal de segunda safra, 43%. “Os fertilizantes vão representar o maior aumento e a maior participação no custo operacional da lavoura, representando 50% dos custos da safra 2022/23”, diz Natália.

Quanto ao abastecimento, analistas acreditam que o País não enfrentará escassez. Esse era um dos maiores receios do setor produtivo com a guerra no Leste Europeu. “Os riscos de desabastecimento diminuíram substancialmente. Acredito que não haverá falta de produto. Os

adubos russos estão chegando e grande parte dos volumes já está contratada”, diz o diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo. Ele calcula que o custo de fertilizantes em dólar para uso em 1 hectare de soja aumentou 196% para a próxima safra e a atual, enquanto o custo com sementes subiu 21% e, com defensivos, 38%.

RISCO DE ATRASO

Porém, o volume necessário para a safra ainda não está garantido na sua totalidade e, por isso, ainda há risco de problemas pontuais de falta de alguns fertilizantes, caso o produtor deixe as aquisições para a última hora. Dados da Stonex mostram que 60% dos adubos a serem aplicados nas lavouras no segundo semestre já foram assegurados pelos produtores, ou seja, ainda restam cerca de 40% para serem comercializados. “No momento, a situação de abastecimento caminha para uma resolução, mas o jogo ainda não está completamente ganho. Precisamos acompanhar as importações que ainda faltam”, diz o gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Belotti. Ele avalia que as lavouras de verão estão mais vulneráveis aos riscos ainda existentes da falta de adubos.

Diante dos preços elevados dos macronutrientes, o Itaú BBA prevê redução de 20% a 40% no uso dos adubos nas lavouras, com produtores lançando mão de residuais estocados no solo. Em 2021, foram 45,8 milhões de toneladas entregues no mercado brasileiro. Em contrapartida, Cogo não enxerga movimento de redução generalizada no uso do insumo. “A maioria relata que vai manter o pacote tecnológico no mesmo nível para buscar produtividade média capaz de cobrir os custos.”

BRASIL E AGRO

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2022-06-29T07:00:00.0000000Z

2022-06-29T07:00:00.0000000Z

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