O Estado de S. Paulo

Adão relembra sua passagem por Paris.

Cartunista lança seu primeiro livro criado só com palavras, ‘Paris por um Triz’, nascido do folhetim ‘Correio Elegante’

MATHEUS LOPES QUIRINO

Adão Iturrusgarai pode se considerar um cronista dos bons. Humor não lhe falta, haja vista a legião de fãs que o segue pelo Instagram. Além da inegável popularidade de seus quadrinhos, sua prosa afiada se mostra toda sexta-feira no folhetim Correio Elegante, um espaço criado pelo gaúcho para contar suas memórias por Paris, que virou livro.

Paris Por Um Triz (Zarabatana) se passa em meados da década de 1990, quando o cartunista fez as malas e foi embora pra Cidade Luz. “Foi uma espécie de estágio para morar em São Paulo”, diz ao Estadão. O leitor descobre um jovem ilustrador às voltas com perrengues chiques, como quando penou para desenhar o macaco Waikiki, desesperado para conseguir trabalho. Lá ele conheceu figurões do underground e se meteu em enrascadas amorosas, como conta em Chana Número 5, episódio inspirado no perfume icônico da Chanel. “Em Paris, demorei dois meses para passar perto da Torre Eiffel, queria ver a vida real, os bares, os cafés. A parte mais linda da cidade são as pessoas.”

PROSA. Financiado por um crowdfunding, o livro de Adão bateu sua meta inicial em 10 dias. “O Correio Elegante surgiu antes dos textos. Só depois criei coragem para escrever, era um antigo sonho. E tenho adorado fazer isso toda semana. Escrever minhas memórias de Paris era mais do que uma necessidade, uma obrigação. Mas uma boa obrigação.” A empreitada, que ganhou fôlego na pandemia, começou com uma newsletter despretensiosa.

Tornou-se leitura obrigatória para mais de cinco mil assinantes, que recebem os textos por e-mail. O folhetim de Adão virou uma porta de entrada para o universo do cartunista, que foi amadurecendo a prosa durante o processo de escrita. “Para o livro, cortei muita gordura, que era necessária para dar fôlego à novela.”

VERÍSSIMO. Discípulo de Luís Fernando Veríssimo, que desenhava charges e caricaturas no jornal Zero Hora, Adão foi de Cachoeira do Sul para Porto Alegre cursar publicidade e, com o sonho de se tornar um cartunista, deu um jeito de entrar em contato com o mestre. Como? Conheceu um sujeito em um bar que tinha o telefone da casa do escritor. Juntou as moedas e comprou fichas telefônicas para usar num orelhão e ligou até ser atendido. Algum tempo depois, Veríssimo deu um empurrão decisivo na carreira do garoto que queria largar a publicidade: publicou uma tira de Adão em sua coluna na Zero Hora.

CHARGE. A partir daí, Adão começou a colaborar com revistas alternativas, como Chiclete com Banana, a sua bíblia do quadrinho nacional. Foi entrando em contato com os cartunistas de São Paulo que Adão formou, anos mais tarde, o quarteto Los Quatro Amigos, com Laerte, Angeli e Glauco. Antes de desembarcar na Pauliceia Desvairada e rumar a Paris.

“Hoje, dedico tempo igual à escrita e aos quadrinhos, continuo a newsletter, agora escrevo sobre a época de Barcelona e Amsterdã. São memórias, mas também com uma pitada de autoficção”. Nos últimos anos, Adão tomou aulas de redação para transportar suas memórias do estrangeiro para o papel. “Agora estou escrevendo em terceira pessoa, nas memórias usei a primeira pessoa. Mas em ambas eu trabalho com o personagem Adaô, que é como pronunciam meu nome em francês.” •

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2022-05-25T07:00:00.0000000Z

2022-05-25T07:00:00.0000000Z

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