O Estado de S. Paulo

Inflação de ideias exóticas para tentar conter a inflação

SERGIO VALE ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS

Distorção

Teremos mais distorções de impostos sem se discutir o principal, que é a reforma tributária

Escalada recente da inflação tem trazido fantasmas para além da perda de compra da população. De repente, começamos a ouvir sobre desonerações de impostos federais de um lado, corte de ICMS de outro, e a insatisfação com a Petrobras, então, tem sido uma constante. A ex-presidente Dilma deve estar orgulhosa da condução da política econômica atual. Mas, da mesma forma que no governo dela nada disso adiantou, aqui não será diferente.

Antes, vale lembrar que a inflação surgiu de forte pressão de políticas monetária e fiscal e choques de oferta pela pandemia e guerra da Ucrânia, alimentada por uma crise fiscal crescente no ano passado, que acelerou a depreciação da taxa de câmbio nos últimos dois anos. Serão dois anos seguidos de inflação próxima a 10%, algo inédito depois do Plano Real. Mas, para conter esse aumento, qual a melhor estratégia?

Mudar impostos, algo permanente, para tratar de algo temporário como o aumento dos preços dos combustíveis não parece natural. A elevação de seus preços, afinal, tem sido por uma conjunção de câmbio e preços de commodities que, aliás, afeta todo o resto da economia, a começar de alimentos. Por ser um setor muito mais difuso e com interesses profundos no governo, é mais fácil tentar afetar os preços onde pode ser politicamente mais fácil, como energia e combustíveis, sem esquecer o próprio interesse do governo por conta dos caminhoneiros. Mais distorções de impostos a caminho sem se discutir o cerne da questão, que é a reforma tributária.

Dada a assimetria de interesses que afeta um setor mais do que o outro, o melhor seria uma política que afetasse todos de forma indistinta, que é a alta de juros. Não importa se a origem foi oferta ou demanda, o ponto é que neste momento o BC tem a chave da resposta para a queda de preços, em que pese infelizmente estar quase isolado.

Da doque o calor eleitoral demandaráuma resposta fiscal para a inflação, o ideal seria minimizar os danos. Em vez de mexer agora no ICMS, deixar isso para a reforma tributária mais geral. em contraposição, ouso departe dos dividendosda petrobras e departe do resultado primário dos Estados poderia agradara gregos e troianos. Evitas e mudar apolítica de preços da petrobras e se deixa a discussão do ICMS para o momento certo. •

ECONOMIA & NEGÓCIOS

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2022-05-25T07:00:00.0000000Z

2022-05-25T07:00:00.0000000Z

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