O Estado de S. Paulo

Inteligência artificial pode ser aliada de investidores em ano de incerteza

Cada vez mais avançados, algoritmos não resolvem tudo sozinhos, mas se tornaram recurso relevante na tomada de decisões em operações, ainda mais no contexto de turbulências políticas e econômicas do País

MURILO BASSO ESPECIAL PARA O E-INVESTIDOR

Em um contexto de incertezas políticas e econômicas em 2022, há opções de fundos que prometem contornar o cenário adverso com inteligência artificial (IA) e big data, pautados em gestão quantitativa.

“Quando falamos em gestão quantitativa, a ênfase em modelagem e matemática é maior do que em outros sistemas ou processos de investimentos tradicionais, que são 100% discricionários, baseados apenas na ‘cabeça’ do gestor”, diz José Romeu Robazzi, sócio da Alphatree Capital.

Gestor da ASA Investments, Alessandro del Drago destaca que a IA sistematiza a tomada de decisão. Os modelos embasados nessa tecnologia fazem o mesmo que um bom gestor faz, com a diferença que conseguem analisar uma gama de dados substancialmente maior do que uma pessoa faria. Falase, aqui, de milhões de dados.

“Se o input de um gestor é acompanhar o Twitter, por exemplo, o modelo vai verificar milhões de tuítes por dia. É possível apurar o sentimento dessas postagens, inferir se são negativos ou positivos para uma determinada ação que influencia o mercado. Com a IA, a função do homem deixa de ser a de decisão da ponta no dia a dia e passa ser a de montar um processo decisório que seja ainda mais eficiente”, diz.

Outra vantagem dos modelos matemáticos, que passam por diversos testes e utilizam dados macro e microeconômicos históricos a fim de identificar tendências, é que eles estão sujeitos em grau muito menor aos chamados “vieses”.

São os prejulgamentos e tendências que influenciam as ações humanas como gostos pessoais, filiação política e até mesmo o mau – ou bom – humor. Assim, quando as decisões são baseadas em uma fórmula ou em um processo mais quantitativo, numérico, o viés acaba se tornando irrelevante.

“A mente humana é extremamente complexa, o que significa que as pessoas conseguem incorporar uma multiplicidade de informações em um processo de decisão, que nem sempre ocorre de forma óbvia e linear. Às vezes, contudo, esses fatores são importantes para o processo. Já o modelo matemático, se por um lado não possui viés, por outro, é limitado. Quando você constrói o modelo e escolhe o que irá colocar nele, pode ser que algum ponto importante seja deixado de lado e aí o modelo precisará ser refeito, o que demanda tempo”, afirma Robazzi.

Um exemplo desse tipo de produto foi lançado em 2021 pela Clear Corretora, que colocou no mercado a Assistente de Inteligência Artificial (AIA), capaz de identificar padrões de comportamento inconsciente do operador e fornece relatórios e dicas que podem ajudar na performance.

“A intenção com esse produto é utilizar dados para ajudar as pessoas a conquistar seus objetivos e melhorar suas operações na bolsa. A AIA identifica padrões dos usuários que podem impactá-los negativamente e os avisa para que interrompam esse comportamento em trading de renda variável”, diz Yan Fernandes, líder de produtos digitais da XP.

FREIO NO OTIMISMO.

A tecnologia ajuda, por exemplo, a barrar um otimismo exagerado dos investidores, que tendem a fazer muitas operações simultâneas após uma sequência de ganhos sem um gerenciamento de riscos adequado.

Um argumento levantado quando o assunto é o uso de IA é de que a tecnologia poderia substituir os seres humanos, contribuindo para taxas de desemprego. Na seara dos investimentos não é diferente.

“Não acredito que vamos ter a substituição do ser humano, mas uma mudança de função. No mundo dos investimentos, serão demandados cada vez mais profissionais com skills (habilidades) de programação e data science (ciência de dados). O uso da tecnologia nessa área é um caminho sem volta”, argumenta Del Drago, da ASA.

Robazzi, da Alphatree, ressalva que, além do fato de as tecnologias serem alimentadas com dados por seres humanos, nenhuma gestora quantitativa deixa um robô atuar completamente sozinho. •

“Serão demandados cada vez mais profissionais com skills (habilidades) de programação e ciência de dados. O uso da tecnologia nessa área é um caminho sem volta.”

Alessandro del Drago

Gestor da ASA Investments

E-INVESTIDOR

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2022-01-03T08:00:00.0000000Z

2022-01-03T08:00:00.0000000Z

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