O Estado de S. Paulo

Cantora Marília Mendonça morre em acidente aéreo

___Piloto, copiloto, produtor e assessor são as outras vítimas; Companhia Energética de Minas informou que aeronave atingiu cabo de uma torre de distribuição da empresa

JOÃO KER JÚLIA MARQUES MARIANA HALLAL

Artista sertaneja de 26 anos, fenômeno de audiência na internet, ia a Caratinga (MG), onde faria show. Outros quatro também morreram.

A cantora Marília Mendonça, de 26 anos, morreu ontem, após a queda de um avião de pequeno porte em uma cachoeira perto de Caratinga (MG), a cerca de 300 quilômetros de Belo Horizonte. Seu produtor, Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Dias Filho, o piloto, Geraldo Medeiros Junior, e o copiloto, Tarcísio Viana, também estão entre as vítimas. A artista – um dos principais nomes do sertanejo feminino do Brasil – faria um show à noite na cidade. Ainda é desconhecida a causa do acidente, que será investigado. A Companhia Energética de Minas (Cemig) informou que o avião atingiu um cabo de uma torre de distribuição da companhia de Caratinga, mas não há informações se isso está ligado à causa do acidente. A tragédia mobilizou rapidamente policiais, bombeiros e socorristas, além de curiosos. Nas redes sociais, vídeos da tentativa de resgate foram transmitidos, enquanto fãs torciam pelo desfecho positivo. Durante a tarde, a assessoria da artista chegou a confirmar que todos os ocupantes tinham sobrevivido, motivo de comemoração de fãs – a informação foi retificada pelos bombeiros menos de uma hora depois. No início da tarde, Marília havia postado vídeo em suas redes sociais, no qual aparece a caminho da aeronave, com sua mala, e depois já dentro do avião. Nele, fala sobre o fim de semana de shows em Minas e exalta comidas típicas da região, como queijo canastra e feijão-tropeiro. “Me conta mais delícias desse Estado maravilhoso que é Minas Gerais”, escreveu. À noite, moradores de Caratinga se reuniram na catedral da cidade para homenagear a sertaneja.

DENÚNCIA.

A aeronave operada pela PEC Táxi Aéreo era de modelo C90A e tinha sido fabricada em 1984, conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A situação de aeronavegabilidade (condições para voo) é “normal”, diz o órgão federal, e o certificado foi emitido em agosto do ano passado e é válido até julho de 2022. Em junho, o Ministério Público Federal (MPF) em Goiás cobrou a Anac por omissão na fiscalização de supostas irregularidades da empresa PEC Táxi Aéreo, dona da aeronave. O pedido da Procuradoria tinha como base uma denúncia recebida pelo órgão, que apontava supostos problemas técnicos na aeronave. No ofício, o procurador da República Marcello Wolff pediu que a agência se manifestasse sobre essa denúncia, que foi anexada ao processo. O texto da denúncia, cuja autoria não foi revelada, dizia ao MPF que a empresa PEC Táxi Aéreo operava com irregularidades que colocam “em risco tripulantes e passageiros”. Segundo a denúncia, de maio, a aeronave com prefixo PT-ONJ “está desde o início do ano realizando voos com problemas no para-brisa, ocorrendo que o vidro fica embaçado com prejuízo visual em pousos e decolagens”. Conforme o texto que chegou ao MPF, o fato era conhecido pela empresa, porém ignorado.

O relato ao MPF também alega que a empresa coloca pilotos “com jornada de voo estourada para voar”. No comunicado à Anac, Wolff dá o prazo de 20 dias para que a agência se manifeste acerca da manifestação, “notadamente sobre a omissão da Agência Nacional de Aviação Civil quanto ao seu dever de fiscalização de supostas irregularidades”.

Em 2019, a empresa também foi multada pela Anac em processos por descumprimento dos prazos de repouso de um dos tripulantes. Conforme a decisão, a empresa “colocou em risco vários voos por ela realizados” na época do descumprimento da jornada, em julho de 2008. A aeronave usada por Marília Mendonça tinha capacidade para transportar seis pessoas, além dos pilotos. A aeronave era de pouso convencional, com dois motores turboélice. Segundo a Anac, as investigações serão feitas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica. A Anac não se manifestou sobre o ofício do MPF até 21 horas de ontem. Já a PEC Táxi Aéreo disse lamentar o acidente. Destacou que o avião era homologado, a equipe era treinada, além de ter experiência. Disse ainda que as condições meteorológicas eram favoráveis e acrescentou que “as causas serão devidamente apuradas”.

Já a Cenipa disse que a equipe de investigação foi acionada. A Cenipa explica que os investigadores fotografam cenas, retiram partes da aeronave para análise e ouvem relatos de testemunhas. “Não existe um tempo previsto para essa atividade ocorrer, dependendo sempre da complexidade da ocorrência.”

ÁREA DE RISCO.

Piloto que sobrevoa há dez anos a região de Caratinga, Rafael Lacerda afirmou que a área onde ocorreu o acidente é evitada pelos colegas. “A gente não sabe por que ele (piloto que levava Marília e as outras vítimas) decidiu ir por ali”, diz. No início da tarde de ontem, ele comandava um voo que partiu de Viçosa (MG) com destino a Caratinga, aterrissando cinco minutos após a previsão de chegada da tripulação que levava a cantora. Segundo Lacerda, os fios de eletricidade na região costumam atrapalhar o pouso. “Para nós que estamos acostumados não chegam a atrapalhar. Mas estão em um setor de muita aproximação e com o relevo muito alto, então é uma área que todos os pilotos evitam”, relata. Ele diz ainda que o tempo estava claro, com céu aberto, e o sol em uma posição “que não atrapalhava a visualização dos fios”, disse Lacerda. “Só soubemos que caiu quando pousamos e vimos que ele (avião em que Marília viajava) não estava no aeroporto. Não ouvimos barulho, não vimos fumaça, sobrevoamos ali e não percebemos”, contou Glauco Souza, de 44 anos, que também estava a bordo do avião pilotado por Lacerda ontem.l

Área onde houve acidente costuma ser evitada pelos pilotos locais e fios de eletricidade podem atrapalhar o pouso

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2021-11-06T07:00:00.0000000Z

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