O Estado de S. Paulo

Mercado projeta aumento de até 1,5 ponto para juros básicos

Pesquisa mostra ainda que bancos passaram a prever uma Selic de dois dígitos até meados do próximo ano

• GUILHERME BIANCHINI, CÍCERO COTRIM e MARIANNA GUALTER

Pesquisa do Projeções Broadcast indica que, de 42 consultorias e bancos consultados, 37 apostam em alta entre 1,25 e 1,5 ponto porcentual para a Selic, que hoje está em 6,25% ao ano, com repercussões negativas para a retomada do nível de atividade do País. O resultado será divulgado amanhã pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

Esta é a aposta, por exemplo, de Bradesco, Sulamérica Investimentos e Credit Suisse. Mas casas como Itaú Unibanco, XP Investimentos e BNP Paribas esperam alta ainda maior – de 1,5 ponto, o levaria a taxa básica de juros para 7,75% ao ano. A sondagem mostrou ainda que o grosso do mercado já vê uma Selic de dois dígitos até meados do próximo ano, quando se prevê o fim do atual ciclo de aumentos. Neste caso, as projeções vão de 10% a até 12%.

O pano de fundo para a piora das expectativas é a tentativa de governo e Congresso de mudar a regra do teto de gastos, que limita as despesas públicas à inflação. A alteração vai liberar cerca de R$ 83,6 bilhões do Orçamento do próximo ano, o que abre a possibilidade de aumentar o pagamento de benefícios sociais como o Auxílio Brasil e de emendas de parlamentares em pleno ano eleitoral.

“Há necessidade de uma postura mais ‘hawkish’ (jargão para se referir aos defensores de juros mais altos) do BC para coordenar as expectativas de inflação de 2022, tendo essa preocupação com a pressão no câmbio”, avalia o economista sênior do Banco MUFG Brasil, Mauricio Nakahodo, que elevou de 1 para 1,25 ponto a projeção de alta na Selic. Sua expectativa para o fim do ciclo subiu de 8,50% para 10,25%, taxa a ser atingida em março do ano que vem.

Nakahodo diz que há agora o risco adicional de movimentações no Congresso para outros gastos extrateto, algo que minaria ainda mais a credibilidade fiscal, impactaria o câmbio e exigiria reação mais intensa da política monetária.

Para o economista-sênior do Banco ABC Brasil, Daniel

Xavier, a saída de quatro secretários do Ministério da Economia referendou uma mudança de conduta do governo em relação ao teto de gastos e aumentou a presença de um risco fiscal nos cenários avaliados pelo Copom. O economista passou a prever três aumentos de 1,5 ponto porcentual da Selic a partir de outubro, que levariam os juros a 10,75% no fim do ciclo, em fevereiro. “Essa mudança de regime traz um risco de desancoragem substancial, caso não se observe uma reação do BC”, afirma Xavier.

“Entendemos que o Copom entrará em regime de contenção de danos e aumentará a taxa Selic em 1,5 ponto porcentual, para 7,75% ao ano em sua próxima reunião

(nesta quarta-feira), seguido de outro aumento de 1,5 ponto na reunião de dezembro, e encerrará o ciclo com duas altas adicionais de 1,0 ponto porcentual, a 11,25% ao ano”, afirma o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.

ECONOMIA

pt-br

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/282003265633728

O Estado