O Estado de S. Paulo

Bancos e consultorias já falam em recessão para 2022

Com a perspectiva de juros ainda mais altos e desmonte da regra do teto de gastos, bancos e consultorias falam em resultado negativo para o PIB; Itaú vê queda de 0,5%

• CÍCERO COTRIM, MARIA REGINA SILVA e RENATA PEDINI

O mercado já não descarta a possibilidade de estagnação ou mesmo de um resultado negativo do PIB em 2022, em meio a um cenário de alta dos juros por causa do desmonte da regra do teto de gastos. A MB Associados reduziu sua projeção do PIB de 0,4% para zero. O Itaú Unibanco fala em queda de 0,5%.

Em meio a um cenário de alta dos juros e da tentativa de mudança do teto de gastos, que hoje representa a principal âncora fiscal do País, o mercado já não descarta a possibilidade de estagnação ou mesmo de um resultado negativo do PIB em 2022. Em relatório divulgado ontem, a consultoria MB Associados reduziu sua projeção de 0,4% para zero. Já o Itaú Unibanco fala em queda de 0,5%, ante a estimativa anterior de crescimento de 0,5%.

Estimativas negativas também já aparecem no relatório Focus, uma compilação do Banco Central com as apostas do mercado para os principais indicadores do País. No relatório de ontem, a mediana para o PIB em 2022 recuou de 1,5% para 1,4% – quatro semanas atrás, estava em 1,57%. Mas, pela primeira vez, o piso das projeções foi de queda de 0,3%.

A mudança de direção ocorre depois das manobras do governo para rever a regra do teto de gastos e, com isso, abrir mais espaço para despesas em 2022 – quando o presidente Jair Bolsonaro vai disputar a reeleição. O governo diz que a mexida é necessária para assegurar o pagamento de R$ 400 por meio do Auxílio Brasil. O risco de descontrole de gastos, porém, levou os bancos a prever um aumento no ritmo de alta da Selic.

“Embora a discussão sobre dominância fiscal pareça exagerada no momento, é verdade que, sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do BC de manter a inflação na meta se torna mais difícil”, afirma relatório assinado pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita.

De acordo com o Itaú, o aumento da incerteza fiscal vai implicar risco país mais alto, maior depreciação do real, piores perspectivas para a inflação e, em última instância, uma taxa de juros neutra mais alta.

“A política monetária funciona bem quando existe uma âncora fiscal. Com o presidente e o Congresso atuando em conjunto na direção do gasto e um ministro da Economia ausente, a âncora desaparece”, escreveu o economista-chefe da MB, Sergio Vale, que assina o documento.

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2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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