O Estado de S. Paulo

Jornal chileno admite erro ao publicar artigo sobre líder nazista

O jornal El Mercurio, um dos mais tradicionais e conservadores do Chile, admitiu ontem que errou ao publicar um artigo que celebrava a vida do criminoso de guerra alemão Hermann Göring, um dos líderes da Alemanha nazista, condenado por crimes de guerra e contra a humanidade.

Em uma nota no pé de uma das mensagens de protestos que chegaram à redação, o Mercurio garantiu que o texto que lembrava os 75 anos da morte de Göring não era “apologia ao nazismo”, mas apenas uma “resenha histórica”. “Inúmeros foram os sinais, ao longo do tempo, de que o jornal manteve uma posição crítica e condenatória ao nazismo.”

O artigo de uma página e meia provocou reações unânimes de todos os setores da sociedade chilena e virou tema da campanha presidencial, que elegerá o sucessor do presidente Sebastián Piñera, em novembro.

O candidato da esquerda, Gabriel Boric, um dos favoritos, criticou o jornal. “O artigo é um lembrete inaceitável de uma página e meia de um dos maiores criminosos de guerra nazistas e fundador da Gestapo”, disse. Sebastián Sichel, candidato conservador e aliado de Piñera, também demonstrou insatisfação. “Não podemos deixar o menor espaço para as pessoas que cometeram crimes contra a humanidade”, afirmou.

Até o candidato do Partido Republicano, de extrema direita, José Antonio Kast, não poupou o Mercurio. “Embora eu seja defensor da liberdade de imprensa, tenho o direito de criticar quando os meios se equivocam ao abrir espaço para que se relativize o horror causado por um personagem desprezível como Göring e o regime criminoso que liderou.”

A publicação do artigo, no fim de semana, provocou uma onda de protestos de várias instituições e líderes políticos, incluindo da embaixada alemã, da comunidade judaica do Chile e de defensores dos direitos humanos. “Queremos deixar algo muito claro: esse homem cometeu crimes contra os direitos humanos e foi um dos pilares do regime nazista”, tuitou a embaixada da Alemanha. “Não há espaço para justificar ou minimizar, moral ou politicamente, seu papel horrível durante o regime nazista e o Holocausto.” Líderes da comunidade judaica do Chile classificaram o artigo de “inaceitável” e o descreveram como “apologia ao nazismo”.

O Mercurio é um dos diários mais antigos do Chile, fundado na cidade portuária de Valparaíso, em 1827. Durante o governo socialista de Salvador Allende (1970-1973), o jornal recebeu financiamento da CIA para criticar as reformas econômicas do presidente chileno. Mais tarde, o Mercurio apoiou o golpe que depôs Allende e deu início à ditadura do general Augusto Pinochet.

“O Mercurio tem um longo histórico de representar os interesses de um setor conservador da sociedade chilena e de impulsionar sua narrativa no Chile há muitas gerações”, disse Mónica Maureira, professora da faculdade de jornalismo da Universidade Diego Portales, de Santiago.

Condenação Artigo do ‘Mercurio’ entrou na campanha presidencial e foi condenado por todos os candidatos presidenciais

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2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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