O Estado de S. Paulo

Luta entre militares e civis

SIMON MARKS É CORRESPONDENTE NA ÁFRICA ORIENTAL E ESCREVE PARA O ‘NEW YORK TIMES’

Interesses econômicos Militares temem perder controle da exploração do ouro e responder por crimes na Justiça

As últimas semanas foram de tensão entre militares e civis, que lutam pelo controle do Sudão. O clima de festa que reinou quando Omar Bashir foi deposto, em 2019, após 30 anos no poder, deu lugar a protestos esporádicos, um golpe fracassado, no mês passado, e acusações de traição dos dois lados.

Os civis insistiam que os militares deveriam entregar o poder antes de 17 de novembro, data que sinalizaria o fim do período de transição de três anos. Teria sido a primeira vez que políticos civis governariam o Sudão em mais de três décadas.

À medida que o prazo para a transferência de poder se aproximava, os líderes civis, incluindo o primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, exigiam a abertura de investigações a respeito do papel dos militares nos massacres e escândalos de corrupção do governo de Bashir. Sem o controle do governo, os militares temiam ter de prestar contas à Justiça.

No mês passado, alguns líderes tribais acusaram Hamdok de ignorar suas promessas e promoveram um protesto em Porto Sudan, a principal artéria comercial e saída marítima do país. O bloqueio do tráfego deteriorou a situação econômica em um país que já convive com inflação alta e escassez de alimentos.

Hamdok acusou os militares de fomentar a revolta.

Os militares também temem que o governo civil tire de suas mãos os lucros da extração de ouro. O Exército sudanês tem um papel importante na mineração e na exportação do metal para Dubai. “Eles têm medo, interesses e ambições”, disse Yasser Arman, conselheiro de Hamdok, em entrevista na semana passada.

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2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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