O Estado de S. Paulo

As lições de ‘Round 6’ para as suas finanças

Na série, pessoas endividadas tentam quitar débitos participando de jogos mortais

Luiz Felipe Simões

O seriado Round 6 tomou conta das redes sociais e tem dado o que falar. Líder em audiência na Netflix, é o primeiro drama coreano a chegar ao primeiro lugar do serviço nos EUA, segundo dados da empresa de classificação de streaming Flixpatrol.

Antes de continuar a leitura, um aviso. Cuidado: este texto contém spoilers para quem ainda não assistiu à série.

Em Round 6, um grupo de pessoas com dívidas bilionárias participa de jogos mortais para ganhar um prêmio em dinheiro. A trama gira em de Seong Gihun, homem sul-coreano, extremamente endividado e que vive à base de picaretagens e depende da mãe. Para tentar aliviar a sua situação financeira, ele recorre a agiotas, mas acaba não quitando os valores, sofrendo ameaças. Ele vê, então, o jogo como sua única saída.

Apesar de grande parte da série focar no jogo em si, é possível tirar lições de vida sobre finanças de Round 6. Confira:

Cuidado com a dívida. A maior parte dos personagens da série tem uma relação ruim com o dinheiro. Para Sang-woo, amigo de infância de Gi-hun, a situação é ainda mais grave: ele usou bens de família como garantia nos empréstimos.

Contrair dívidas é, muitas vezes, reflexo da perda de renda – por isso, a reserva de emergência é tão importante Para Eduardo M. Reis Filho, especialista em educação financeira e investimentos da Ágora e autor de Trabalhadores não precisam ser pobres, o primeiro passo para quitar as dívidas é mensurar qual o tamanho delas.

“Faça a soma de todas, coloque em ordem de importância, começando com serviços essenciais (luz, água, gás etc). Esse é o tempo de se conscientizar para voltar a ter o controle das suas finanças.”

Escolha bem o crédito. Como Gi-hun está sem emprego, vive recorrendo a amigos, familiares e agiotas para conseguir dinheiro. O educador financeiro Leandro Benincá diz que um empréstimo pode ser um bom instrumento, mas só quando ele pode trazer mais dinheiro.

“Muitas empresas fazem isso. Só que a pessoa física, quando quer um empréstimo, geralmente é por necessidade. Então, caso necessite muito, opte por um empréstimo que tem juros mais baixo do que as suas dívidas. É preciso muita atenção nisso, para não deixar uma bola de neve acontecer.”

Use só opções oficiais. Gihun, de Round 6, vai a extremos: aposta dinheiro de agiotas em corrida de cavalos e chega a assinar um documento dizendo abrir mão da própria vida. No mundo real, sair de opções oficiais também pode ser perigoso. “Sempre é indicado optar por instituições reguladas participantes do Sistema Financeiro Nacional. Em caso de exceção, uma pessoa de confiança ou familiar próximo que não faça questão de cobrar a taxa de juros seria ideal”, diz Reis.

Operações alavancadas. Em um determinado momento da série, o roteiro revela como Sang-woo, o prodígio do bairro, ficou na mesma situação grave que os demais personagens. Chefe da equipe de investimentos de uma empresa de valores mobiliários, perdeu todas as suas economias e de toda a família ao realizar operações alavancadas na bolsa de valores e em derivativos. Segundo Benincá, alavancagem é um sinal de ganância excessiva. “Empresas fazem isso, mas de uma forma muito controlada”, diz.

Victor Lima, analista de investimentos da Toro, diz que esse tipo de operação troca o longo prazo pelo curto. “É preciso muito cuidado e saber que pode fazer com que você tenha um colapso financeiro.”

Investir, não apostar. No desespero, é comum ver personagens de filmes apostando em jogos de azar – como Gi-hun nas corridas de cavalo.

Benincá diz que apostar é um desrespeito com dinheiro. “Sem contar que pode esconder um vício. Muitas pessoas se viciam em apostas, é um vício silencioso, difícil de ser identificado e que acaba com a saúde de muita gente. A melhor coisa a se fazer é não apostar com o seu dinheiro, seja em loteria, bingos, no que for. Não aposte com o seu dinheiro”, diz.

O autor de Trabalhadores não precisam ser pobres explica ainda que o caminho mais sólido para uma vida financeira estável é ter uma fonte de renda constante, ser controlado financeiramente e utilizar instrumentos de organização financeira pessoal e familiar.

O investimento, diz ele, é feito ao longo do tempo, de forma constante. “É um exercício de autoconhecimento respeitando seus limites e o seu perfil de investidor”, conclui Reis.

Economia

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2021-10-13T07:00:00.0000000Z

2021-10-13T07:00:00.0000000Z

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