O Estado de S. Paulo

Private equity foca em ativos com preocupações ESG

Seja por receio de perder dinheiro ou para aumentar o impacto social, fundos adotam a agenda da sustentabilidade para realizar aportes

André Jankavski

O problema da baixa penetração de internet de qualidade e com um preço justo no País ficou ainda mais evidente durante a pandemia. Por isso, desde 2018, o fundo de private equity EB Capital vem comprando uma série de empresas do setor de internet de fibra óptica. A primeira foi a Sumicity, que era estabelecida na cidade de Sumidouro, no Rio de Janeiro.

Segundo Pedro Parente, expresidente da Petrobras e um dos sócios da EB Capital, tratase de uma oportunidade de mercado e um investimento de impacto ao mesmo tempo. “Entramos nesse mercado pois existe uma desigualdade digital que vai agravar a desigualdade social”, diz. Até agora, a gestora já investiu R$ 2 bilhões nessa área e ampliou o número de assinantes de 90 mil para 800 mil. A meta é chegar a 1 milhão em 2022 com planos de preço inicial em R$ 79.

O EB Capital surgiu em 2018 com o propósito de alcançar retornos de, ao menos, 25% ao ano, mas apenas com investimentos que causem algum tipo de impacto positivo na sociedade. Além da internet de fibra óptica, investe em áreas como educação e serviços para pequenos e médios empresários. “A chave está no profit and purpose (lucro e propósito)”, afirma Parente. Com essa visão, o fundo já possui R$ 3 bilhões sob gestão e quer chegar a R$ 5 bilhões até dezembro.

O movimento do EB Capital vem se tornando cada vez mais frequente nos fundos de private equity. A agenda ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) entrou de vez nas tomadas de decisões de investimentos dessas gestoras, que observam tanto os impactos para a sociedade quanto a possibilidade de altos lucros e diminuição dos riscos de seus portfólios.

Segundo um estudo global feito pela consultoria PwC, 66% dos executivos de fundos afirmam que a criação de valor e o impacto já é um dos três fatores que mais contam na hora de investir. “Nos últimos anos, vimos uma mudança de comportamento nos fundos. Antes, ocorriam mais processos, para ver se nada estava errado. Agora, há diversos fundos criando portfólios voltados para o ESG”, afirma Christian Gamboa, sócio da PwC.

Impacto. Segundo o levantamento da PwC, também aumentou o interesse no setor pela criação de fundos de impacto. Cerca de 17% dos entrevistados possuem algum fundo desse tipo. Ainda é uma minoria, mas 45% de todos os fundos já estão usando métricas para entender o impacto dos seus investimentos.

A GEF Capital, que tem Anibal Wadih e Alexandre Alvim como sócios, é um exemplo de empresa que calcula todo impacto de seus investimentos. O fundo tem R$ 2,7 bilhões sob gestão e, além de dar um retorno de 30% ao ano para os seus investidores em média, sempre aponta os retornos de ESG para os seus clientes. Um dos seus investimentos foi na empresa de construções modulares Tecverde. De 2015 a 2019, além de ter aumentado por cinco o faturamento, a Tecverde reduziu em mais de 80% as emissões de CO2 em suas construções, diminuiu em 85% a geração de resíduos e uso de água e beneficiou 2,5 mil famílias de baixa renda. Em 2020, o GEF Capital vendeu a sua participação para uma joint venture formada pelo grupo belga ETEX e os chilenos da Arauco.

Atualmente, a GEF investe nas empresas de energia Luminae, Unicoba e ENC Energy, e na ProSolus, de agricultura. “O mercado está pedindo cada vez mais sustentabilidade e é um caminho sem volta. Quem não ficar de olho nisso não está fazendo o trabalho direito”, afirma Wadih.

Economia

pt-br

2021-09-26T07:00:00.0000000Z

2021-09-26T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/282175064266958

O Estado