O Estado de S. Paulo

Caboclo tentou usar dinheiro da CBF para calar secretária

Presidente afastado propôs R$ 8 milhões pela devolução das gravações com os atos de assédio

Weslley Galzo

Presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo tentou firmar um acordo milionário para garantir o silêncio da secretária que move ação na Justiça contra ele por assédio moral e sexual no ambiente de trabalho. A movimentação fracassou, porque a denunciante recusou a proposta. Os termos definidos na minuta a obrigavam a revelar o nome de quem a teria orientado a gravar as conversas com o dirigente, proibia entrevistas a jornalistas e exigia que até os herdeiros e sucessores dos envolvidos mantivessem sigilo absoluto sobre a negociação.

Os documentos aos quais o Estadão teve acesso mostram que Caboclo estava disposto a desembolsar R$ 8 milhões dos cofres da entidade diretamente para a conta da vítima em busca de contornar a crise anunciada e, ao final do processo, ainda tornar sigilosas as provas obtidas pela funcionária, assim como a própria negociação. Além do dinheiro, o então presidente garantiu à funcionária que o plano de saúde corporativo ficaria ativo até outubro de 2023;

Se tivesse assinado o acordo, a ex-funcionária da CBF estaria concordando em “manter o mais absoluto grau de sigilo para todos os fins”. As versões das minutas obtidas pelo Estadão datam do dia 17 de maio, apenas 18 dias antes de o dirigente ser afastado do cargo.

Os dois acordos foram redigidos por antigos advogados de Caboclo. Nos documentos, a CBF entra como parte da negociação em vez do então presidente da entidade, o principal interessado no caso. Segundo a confederação, a diretoria barrou a celebração do contrato por considerar que a proposta contida na minuta era de “assunto estritamente particular”.

“A CBF informa que o referido documento foi produzido de forma unilateral pelo presidente afastado e não chegou a ser assinado, pois a Diretoria detectou que o mesmo estava em desacordo com as políticas de governança e conformidade da entidade, uma vez que o acusado pretendia utilizar recursos da CBF para resolver um assunto estritamente particular”, declarou a instituição em nota.

Procurada pela reportagem desde terça-feira, a defesa de Rogério Caboclo não respondeu aos questionamentos.

Ontem, a Justiça do Rio ampliou os poderes concedidos aos dois interventores indicados pelo juiz Mario Cunha Olinto Filho, da 2.ª Vara Cível da Vara da Tijuca, os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim, e da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, para gerir a entidade até a realização de novas eleições. Eles terão o poder de indicar um dos oito vice-presidentes da confederação e demitir dirigentes. Os nomeados ainda não responderam se aceitam a indicação e têm até o dia 3 de agosto para informar a escolha à Justiça carioca. A CBF vai recorrer da decisão.

Toquio 2020

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2021-07-29T07:00:00.0000000Z

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