O Estado de S. Paulo

MANSÃO ESTREMECE LAÇOS EUA-ÍNDIA

Blinken tenta liberar venda de US$ 110 milhões

No início deste ano, quando o secretário de Estado americano, Antony Blinken, aguardava sua confirmação uma estranha pergunta sobre uma propriedade a quase 13 mil quilômetros surgiu.

A Lincoln House, um antigo palácio do marajá e ex-sede do consulado dos EUA em Mumbai, deveria ter sido vendida há seis anos por US$ 110 milhões (R$ 616 milhões). Desde então, os EUA tentam transferir a propriedade para uma das famílias mais ricas da Índia, responsável por grande parte das vacinas contra a covid-19 fabricadas no país. Por razões desconhecidas, o governo indiano bloqueia a transação.

A disputa é “uma irritação desnecessária nas relações bilaterais”, disse o senador James E. Risch em uma pergunta a Blinken durante a audiência de confirmação. “Você se compromete a fazer da resolução da questão Lincoln House uma prioridade, em termos de Índia, e a direcionar o embaixador dos EUA na Índia a fazer o mesmo?”

“Sim”, disse Blinken, que nesta semana terá a chance de provar sua palavra. Ele chegou na terça-feira à Índia para sua primeira viagem ao país como secretário de Estado, e funcionários do Congresso e do governo afirmam que ele pretende trazer à tona a mansão que está se tornando uma espécie de buraco negro diplomático.

Blinken tem um prato cheio em suas mãos. Ele tentará cobrir cibersegurança, direitos humanos, mudança climática, assistência relacionada à covid, Afeganistão e até um acordo comercial que pode significar bilhões de dólares em novos negócios para a Índia e os EUA, se for assinado.

Mas Lincoln House se tornou um obstáculo inesperado. A correspondência diplomática revela quanta atenção esta única propriedade tem consumido, indicando algumas das tortuosas reviravoltas da relação Eua-índia, que muitas autoridades americanas esperam que se torne sua pedra angular na Ásia.

Com as contas de manutenção aumentando, a Lincoln House ainda não foi vendida, seus muros altos estão desmoronando, a pintura descasca e manchas de ferrugem escorrem pela calçada. Um edifício irregular, de aparência mal-assombrada e cor creme, a mansão fica em um dos enclaves mais desejáveis de Mumbai.

Do ponto de vista dos EUA, não há motivos legais para bloquear a venda, e a Índia e os EUA deveriam ser amigos.

As autoridades americanas suspeitam que o governo de Modi não gosta da ideia de os EUA ganhando tanto dinheiro com o que seria uma das maiores vendas de casas na história da Índia. Ou talvez o governo Modi queira impedir que Lincoln House vá para os Poonawallas, que não estão entre o punhado de bilionários indianos que o apoiam.

Se o negócio não for finalizado até o fim de agosto, os Poonawallas têm o direito de desistir. Se o fizerem, o governo americano enfrentará uma pergunta cara: e agora?

Internacional

pt-br

2021-07-29T07:00:00.0000000Z

2021-07-29T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/281870121475246

O Estado