O Estado de S. Paulo

Governo investiga partido islâmico por corrupção.

O movimento Ennahdha, o maior do Parlamento, é suspeito de ter recebido financiamento do estrangeiro e doações anônimas

Promotores tunisianos abriram uma investigação sobre suposto financiamento estrangeiro de campanha e doações anônimas ao partido islâmico Ennahdha e duas legendas, segundo a mídia local.

O Ennahdha é o maior partido no Parlamento tunisiano, cujas atividades foram suspensas no domingo pelo presidente Kais Saied. Ele também demitiu o primeiro-ministro e membros-chave do gabinete, dizendo que era necessário estabilizar um país em crise econômica e de saúde. Mas o Ennahdha e outros críticos o acusam de ultrapassar os limites constitucionais e promover um golpe de Estado, ameaçando a jovem democracia da Tunísia.

O porta-voz da promotoria, Mohsen Daly, disse que as investigações foram abertas em meados deste mês. Ele também detalhou que as apurações estão sendo feitas pela agência nacional anticorrupção do país – instituição suspeita de corrupção – e pela Comissão da Verdade e Dignidade da Tunísia, criada para enfrentar os abusos durante as décadas de governo autocrático da Tunísia.

O líder do Ennahdha, Rachid Ghannouchi, disse na terça-feira que seu partido é um alvo perfeito para culpar pela crise no país. Ghannouchi declarou que seu partido está trabalhando para formar uma “frente nacional” para conter a decisão de Saied de suspender a legislatura, pressionar o presidente e “exigir o retorno a um sistema democrático”.

Ele admitiu que o Ennahdha, acusado de se concentrar em suas preocupações internas em vez de controlar o coronavírus, “precisa se revisar, assim como as outras partes”.

As reações às decisões de Saied foram diversas, com alguns esperando que tragam estabilidade e outros temendo que ele tenha concentrado muito poder.

Com a proibição de grandes reuniões, vida cotidiana em Túnis continuava numa débil imitação de normalidade. As reuniões públicas com mais de três pessoas estão proibidas e o toque de recolher por causa da pandemia foi ampliado, silenciando uma capital que nos dias anteriores vibrava com os protestos. Os lojistas no centro velho baixaram as portas bem antes do toque de recolher às 19 horas.

Mas esse torpor também refletia a névoa de incertezas em que a Tunísia se encontra após a tomada do poder por Saied. Todos esperam para ver o que vai ocorrer proximamente e se perguntam se isso ajudará a resolver os problemas econômicos, políticos e de saúde do país – ou só vai agravar o impasse.

“O que ele fez foi certo, isso devia ter ocorrido há alguns anos”, disse Hedeya Kalboussi, uma estudante de enfermagem de 23 anos. Sobre o que restou do governo, do Parlamento e do Ennahda, ela afirmou: “Eles não deram nada para a Tunísia durante dez anos. Não merecem o poder que tinham em mãos”.

Saied disse que pretende nomear um novo governo dentro de 30 dias. “Nenhuma das instituições estava funcionando mais e a corrupção era generalizada”, disse ele, afirmando que levará à justiça as autoridades corruptas. Ele também prometeu frear a propagação da covid19 que vem golpeando o país.

O número de mortes por covid-19 que é um dos mais altos do mundo em razão de um lockdown falho e uma campanha de vacinação mal administrada. Na Tunísia, o nível de vida está estagnado, um impasse político impede o país de resolver a crise econômica, e a vasta maioria dos tunisianos considera o governo corrupto e incompetente.

“Estou muito feliz e aliviada. Porque diariamente eu acordava com raiva, me sentindo muito frustrada, estressada, porque o governo não representava o que nós desejávamos”, disse Insaf, uma arquiteta de 30 anos, sobre a decisão de Saied.

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2021-07-29T07:00:00.0000000Z

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