ASecretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou – e depois apagou – uma propaganda para homenagear o Dia do Agricultor, comemorado ontem. A peça mostrava a imagem de um homem armado com um rifle com uma mensagem parabenizando produtores rurais. A publicação teve repercussão negativa – foi acusada, entre outras coisas, de relativizar a violência no campo – e se tornou alvo de piadas nas redes sociais.

“Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo”, escreveu a Secom no Twitter, pela manhã, junto com a imagem do “agricultor” armado. Diante das críticas, a publicação foi apagada à tarde e substituída por outra, desta vez com dados sobre segurança. Em nota, a Secom disse que retirou a publicação do ar porque a imagem utilizado, “em referência à segurança no campo, deu margem a interpretações fora do contexto”.

A fotografia que causou polêmica está disponível em bancos de imagens genéricas e pode ser comprada por R$ 45 a R$ 3 mil, a depender do tamanho e da resolução escolhida para download. A imagem é identificada como “silhueta de caçador carregando espingarda no ombro e observando”.

O texto que acompanhava a foto publicada ontem pelo Dia do Agricultor ressaltava ainda que o presidente Jair Bolsonaro “estendeu a posse de arma do proprietário rural a toda a sua propriedade”. Trata-se de referência a uma lei sancionada em setembro de 2019 que permite carregar a arma por toda a propriedade, e não apenas na sede do imóvel rural, como era previsto antes da nova legislação.

A propaganda da Secom provocou reação imediata nas redes sociais. Os termos “agricultor”, “jagunço” e “Secom” ficaram entre os assuntos mais comentados do Twitter. O governador do Rio Grande do Sul e presidenciável, Eduardo Leite (PSDB), escreveu: “Será essa a melhor ferramenta para representar o agricultor brasileiro? Será dessa forma que nosso agronegócio quer ser visto e respeitado no mundo?”. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), também pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, declarou que o governo promove a “simbologia do ódio e da morte em todos os espaços”.

A Oxfam Brasil, que integra uma rede internacional que atua no combate à pobreza e à desigualdade, afirmou que a publicação da Secom “desrespeita” os trabalhadores rurais. “Não se planta com armas, não se colhe com armas. A imagem mais parece celebrar aqueles semeiam a violência no campo.”

Piada. A publicação, no entanto, também virou piada. “Feliz Dia do Jagunço” e “Feliz Dia do Caçador” foram alguns dos tuítes publicados pelos usuários. Outros afirmaram que o “novo padrão” da Secom é homenagear profissionais e comemorar datas como Natal e Páscoa sempre mostrando uma arma – foram feitas inúmeras montagens para o Dia do Médico, Dia do Professor, entre outras.