O Estado de S. Paulo

Saúde vai testar terceira dose para vacinados com Coronavac

Fabiana Cambricoli Júlia Marques

O Ministério da Saúde fará estudo para avaliar a necessidade de uma terceira dose de vacina em pessoas imunizadas com a Coronavac. A pesquisa será feita em parceria com a Universidade de Oxford. De acordo com a pesquisadora Sue Ann Clemens, é preciso saber a duração da proteção oferecida pelo imunizante, o que já ocorre com as vacinas de Pfizer, Astrazeneca e Janssen.

Pesquisa, em parceria com Universidade de Oxford, medirá quanto tempo dura proteção criada pela vacina; cientistas vão avaliar efeitos de reforço com vários tipos de imunizante. Estudo chinês mostrou queda de anticorpos após 6 meses, mas isso não significa eficácia menor

O Ministério da Saúde informou ontem que vai realizar um estudo para avaliar a necessidade de uma terceira dose em pessoas imunizadas com a vacina Coronavac, produzido no Brasil pelo Instituto Butantan. Cerca de 50 milhões de doses do produto já foram aplicadas no País.

A pesquisa, patrocinada pelo Ministério da Saúde, será realizada em parceria com a Universidade de Oxford e terá início em duas semanas. “Não temos publicação na literatura detalhada acerca de sua efetividade (da Coronavac). As respostas precisam ser dadas através de ensaios clínicos”, afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em entrevista em Brasília.

De acordo com a pesquisadora Sue Ann Costa Clemens, professora de Oxford e coordenadora do estudo, é preciso saber a duração da proteção de cada vacina. Ela afirma que, para os imunizantes da Pfizer, Astrazeneca e Janssen, já há publicações demonstrando a duração da proteção de 12 meses. “Em relação à Coronavac, precisamos avaliar isso. Estudos já mostraram que a proteção começa a cair com 6 meses”, disse.

Nesta semana, um estudo preliminar publicado por cientistas chineses mostrou que o nível de anticorpos neutralizantes produzidos pelo organismo após a imunização com Coronavac caiu depois de seis meses. Ainda não é possível associar a queda de anticorpos à redução da proteção.

O mesmo estudo mostrou que uma terceira dose da Coronavac é capaz de impulsionar novamente a produção de anticorpos, o que demonstra que a vacina induz boa “memória imunológica”. Os pesquisadores chineses ponderaram, porém, que a decisão de oferecer uma terceira dose depende de vários fatores, entre eles a oferta de vacinas e a situação epidemiológica do país.

Ao Estadão, Sue afirmou que o estudo será feito com 1,2 mil pessoas, a partir dos 18 anos, que serão divididas em quatro grupos: o primeiro receberá o reforço com a própria Coronavac; o segundo com a vacina da Jansen; o terceiro com a da Astrazeneca e o quarto com a da Pfizer. Todos os voluntários precisam ter tomado a segunda dose da Coronavac no mínimo há cinco meses e no máximo há sete meses.

“Um mês depois da aplicação nos voluntários, vamos colher o sangue e medir os títulos de anticorpos, inclusive com a análise para cada variante de preocupação”, explicou Sue.

Ela afirma que a pesquisa deverá ser concluída entre outubro e novembro para que, entre o final deste ano e o início do ano que vem, o ministério possa decidir se aplicará o reforço em quem tomou a Coronavac.

Sem contato. Procurado, o Instituto Butantan disse que “qualquer estudo que avalie o uso de vacinas na população é válido e de extrema importância”, mas que não foi procurado pelo ministério para colaborar na pesquisa. “O Instituto Butantan preza pelo diálogo e mantém canal aberto com as autoridades federais”, acrescentou o órgão paulista, em nota.

O Butantan destacou ainda que fez um estudo em Serrana (SP) para medir a efetividade da vacina e que os testes mostraram que a vacina foi capaz de evitar a maioria dos óbitos e internações. Segundo o instituto, nova fase da pesquisa, que começou no início de julho, vai avaliar como se comporta a proteção dos vacinados após seis a oito meses da imunização.

O ministério foi questionado sobre o cronograma para aplicação de terceiras doses e sobre negociações de compra de mais vacinas para atender a todos que poderão precisar de reforço, mas não respondeu.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também já aprovou estudos no Brasil sobre doses de reforço da Pfizer e d Astrazeneca.

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2021-07-29T07:00:00.0000000Z

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