O Estado de S. Paulo

Uma renda fixa turbinada para a sua carteira

Em semana de reunião do Copom, especialistas destacam o bom momento dos títulos de crédito privado

Rebeca Soares

Os investimentos em renda fixa costumam ser mais seguros para os investidores de perfil conservador. Embora as crises decorrentes da pandemia do coronavírus tenham influenciado esses ativos com o cenário de incerteza no País, a retomada econômica pode ser um bom momento para olhar as possibilidades da renda fixa.

Essa retomada foi potencializada pelo Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que superou as projeções, alcançando 1,2% de crescimento, além de uma série de recordes do Ibovespa. Ao mesmo tempo, houve o aumento da taxa Selic para 3,5% ao ano, pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que nesta semana anuncia a manutenção ou a revisão desse juro básico.

“Os títulos indexados à inflação ou prefixados, seja de emissão pública ou privada, estão com expectativas altas para os próximos meses”, avalia o economista e sócio da BRA, João Beck. Segundo ele, a mudança da narrativa da economia do País deixou a situação da dívida pública mais confortável.

Entretanto, o investidor deve ficar atento aos gastos do governo para os próximos meses e para 2022. Por ser ano eleitoral, os gastos públicos costumam crescer, independentemente do lado político vencedor. Ele acrescenta que é necessário olhar, ainda, para a crise hídrica por causa de seus reflexos na inflação (a conta de luz tende a ficar mais cara).

Com o objetivo de contornar o rendimento baixo entre os títulos públicos, os produtos de crédito privado tomaram espaço durante a pandemia.

Para Rodrigo Mendonça, analista de renda fixa da Valora Investimentos, foi visível uma migração da renda fixa para a Bolsa durante a crise de 2020. “Agora, com a retomada econômica, os fundos de crédito privado têm ganhado atração maior e vislumbram ganhos reais para 2022”, comenta.

O que pode parecer uma sopa de letrinhas é, na verdade, a possibilidade de emprestar dinheiro a uma instituição para financiar dívidas ou projetos de terceiros e receber o valor de volta com os juros correspondentes. Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), debêntures, letras financeiras e nota comercial são títulos privados de renda fixa.

Para quem busca investir em títulos de crédito privado, além do cenário macroeconômico, Beck alerta que o investidor deve conhecer o negócio. “O endividamento de empresas do setor de commodities, seja agrícola ou metálica, não foi tão influenciado com a pandemia como outros setores. Por outro lado, construtoras, shoppings e as empresas de educação ainda não recuperaram a saúde financeira, embora o cenário já esteja bem mais confortável.”

Crédito estruturado. Uma opção, considerada como “renda fixa sofisticada”, são os fundos de crédito estruturados. Eles possuem taxas mais altas mas prometem retornos maiores por investir em empresas com média ou alta inadimplência. A rentabilidade pode chegar a 130% e 150% do CDI. Para o investidor pessoa física, a forma mais fácil de acesso é por meio de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).

Enquanto os FIDCS rendem a partir do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), o retorno das debêntures (investimento em dívidas privadas) é medido pelo Índice de Debêntures Anbima (IDA), que pode ser relacionado com o IPCA.

Para Jean Pierre Cote Gil, sócio e diretor do Julius Baer Family Office, o prêmio do crédito estruturado sobre o corporativo não está atrelado a um risco de crédito superior, mas a outros fatores como complexidade analítica. “O crédito estruturado geralmente oferece de 1% a 3% ao ano de prêmio sobre o crédito corporativo a depender da estrutura e do emissor.”

Simone Albertoni, analista de produtos de renda fixa da Ágora, ressalta a importância do investidor analisar o risco que ele quer assumir e não pensar somente no lucro. “O retorno pode ser melhor nos títulos privados e os fundos de crédito estruturados ajudam na diversificação da carteira, mas é aconselhável fazer uma boa avaliação e ter o acompanhamento de um especialista”, comenta.

Economia

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2021-06-14T07:00:00.0000000Z

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