O Estado de S. Paulo

Leite de vacinadas tem anticorpos de covid-19

Metade das voluntárias manteve proteção quatro meses após a imunização com a Coronavac

/ PAULA FELIX, COM AGÊNCIA BRASIL

Um estudo com lactantes imunizadas com a Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, apontou a presença de anticorpos contra o novo coronavírus no leite materno das voluntárias. Em 50% dos casos, esses anticorpos permaneceram no leite durante quatro meses.

A pesquisa foi feita por um grupo do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP com 20 funcionárias imunizadas entre janeiro e fevereiro. “Convidamos voluntárias que estivessem amamentando para tomar a vacina e 20 apareceram. Elas não eram mais puérperas”, explica Magda Carneiro-sampaio, coordenadora da pesquisa e professora titular de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. “O estudo é animador. A gente usou a mesma metodologia e os reagentes do estudo com a vacina da Pfizer em Israel e nosso grupo tem expertise em estudos com leite humano.”

As amostras de leite foram coletadas antes da imunização e nas semanas seguintes à primeira e à segunda doses. Também foram analisadas amostras de quatro meses após a vacinação, totalizando nove coletas. A idade média das voluntárias era de 35 anos e o tempo médio de amamentação, de 11 meses.

“Das 20 voluntárias, 16 ainda não tinham anticorpos. Depois da vacinação, essas 16 mães tiveram altos níveis da imunoglobulina IGA específica para o coronavírus. A subida se deu principalmente nas semanas cinco e seis, que coincidem com a segunda dose”, afirma. “Observamos de forma consistente que a Coronavac é capaz de produzir IGA no leite humano.” Magda diz que não é possível concluir, porém, que os bebês vão estar protegidos contra o vírus.

Achados semelhantes foram encontrados por estudos norte-americanos e por uma pesquisa israelense. Realizados com os imunizantes da Pfizer/biontech e da Moderna, eles apontaram a presença dos anticorpos, mas sem precisar a proteção para as crianças.

O grupo do Instituto da Criança e do Adolescente já fez a primeira coleta para outra pesquisa. Desta vez, com gestantes. Um estudo semelhante foi feito com a vacina da Pfizer, colhendo no parto o sangue do cordão umbilical para dosar IGG e ver se ele passa para o feto. No caso da vacina da Pfizer, o resultado foi positivo.

Para Patricia Palmeira, bióloga e pesquisadora no laboratório de pediatria clínica do Hospital das Clínicas, o estudo incentiva a vacinação e o aleitamento materno. “Os resultados foram claros para mostrar que a segunda dose é vital, porque aumenta o título de anticorpos e eles se mantêm por um tempo. É uma boa resposta e uma forma de divulgar a importância da amamentação.”

A médica neonatologista Bruna Binsfeld Avallone, de 34 anos, que atua no Centro de Terapia Intensiva Neonatal do instituto, foi uma das voluntárias. Ela é mãe de Vicente, de 4 anos, e Murilo, de 10 meses.

A coleta foi realizada em janeiro deste ano, quando Bruna retornou da licença. “Foi muito legal poder doar e ver o resultado. É o que a gente espera tomando a vacina e amamentando.” A médica, que não tem planos de desmamar o filho, conta que, mesmo imunizada, as medidas para evitar a infecção vão continuar. “Não muda o cuidado que a gente tem ao sair, de tomar as medidas de proteção no trabalho. O que muda é a parte emocional de saber que tem a vacina, que tem proteção. E isso diminui a ansiedade.”

“O estudo é animador. A gente usou a mesma metodologia e os reagentes do estudo com a vacina da Pfizer em Israel.” Magda Carneiro-sampaio

COORDENADORA DA PESQUISA

“É uma forma de divulgar a importância da amamentação.” Patricia Palmeira

BIÓLOGA

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2021-06-14T07:00:00.0000000Z

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