O Estado de S. Paulo

Influenciadoras abrem caminho como empresárias

Empreendedoras aproveitam sucesso nas redes para criar marcas próprias de moda e maquiagem

Juliana Pio

Não é de hoje que a economia do marketing de influência movimenta milhões de reais no Brasil. Cada vez mais sofisticado, o trabalho dos criadores de conteúdo tem atraído a atenção de investidores, em um movimento semelhante ao das startups. Conceitos como equity (participação de capital), venture capital (investimento de risco) e até mesmo blockchain já fazem parte desse mercado, que tem como tendência a criação de marca própria.

Se num primeiro momento o foco dos influenciadores estava na realização de parcerias com companhias já existentes, por meio das chamados postagens patrocinadas (“publi posts”), hoje muitos estão se tornando empreendedores e lançando os próprios produtos e serviços, no ambiente online ou offline.

“Os influenciadores estão começando a olhar para outros modelos de negócio que se desenrolam a partir do conteúdo que criam. Muitos entenderam que, se podem usar a influência para vender para outras empresas, conseguem fazer o mesmo com a própria marca”, explica Bia Granja, cofundadora da Youpix, consultoria para comunicação digital.

Pesquisa da própria Youpix sobre o perfil dos criadores de conteúdo mostrou que, em 2019, 24% já tinham a influência como principal atividade remunerada. Dos 152 brasileiros entrevistados, quase metade (49%) se configurava como MEI (microempreendedor individual). Segundo Bia, esse é um mercado que tende a expandir, principalmente, após a pandemia.

De acordo com o estudo ROI & Influência 2021, realizado pela Youpix em parceria com a AlgoritmCOM, 83% das 94 grandes empresas brasileiras entrevistadas consideram que, com a crise do novo coronavírus, o marketing de influência se tornou mais estratégico para seus negócios. Essa é a terceira edição da pesquisa e, pela primeira vez, nenhuma das marcas assinalou que o segmento não tem importância.

Para 2021, a previsão é de que o investimento em ações com influenciadores aumente 71% na comparação com o ano passado. “Estamos olhando para a economia da influência de um jeito mais maduro e é um bom momento para se falar em empreendedorismo, ou seja, em criar negócios a partir de conteúdo”, ressalta Bia.

Maquiagem. Foi o que observou Bianca Andrade, de 26 anos, que celebra neste ano uma década de carreira como influenciadora e, mais recentemente, como empresária. Nascida na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, ela faturou R$ 120 milhões em 2020 com a sua marca de maquiagens, a Boca Rosa Beauty.

Bianca entrou no Youtube em 2011, aos 16 anos, gravando vídeos amadores de maquiagem. Para sustentar o canal, trabalhava no bufê da mãe como recepcionista e garçonete. “Era onde tirava dinheiro para comprar câmera, iluminação, maquiagens etc. Mas sempre tive feeling para os negócios. Cheguei a fazer um curso no Senac e passei a trabalhar como maquiadora profissional”, lembra.

Paralelamente, ela realizava parcerias e permutas com marcas dos mais variados segmentos. Cobrava cerca de R$ 150 por vídeo no início. “Bem raiz”, brinca. Aos poucos, foi conquistando autoridade no assunto e formando uma comunidade fiel. “Comecei a me apaixonar pelo processo criativo e isso despertou o interesse em ter a minha marca”, explica ela, que tem mais de 14 milhões de seguidores somente no Instagram.

O sonho virou realidade em 2017, após se unir à Payot para uma cocriação e lançar a própria coleção de maquiagens. A empresa de cosméticos entrou com o investimento (de valor não informado), fabricação e distribuição, enquanto a marca Boca Rosa atua na concepção de todos os produtos, desde a testagem até o plano de marketing.

Parcerias. Seguindo passos semelhantes, a influenciadora Júlia Peixoto, de 21 anos, nascida em Parada de Lucas, zona norte do Rio, lançou no último dia 6 de maio a própria linha de maquiagens, JuPxt, com parceria e investimento da empresa de cosméticos Face Beautiful.

Júlia, que começou a fazer vídeos nas redes aos 12 anos, participou de todo o processo de criação dos produtos e receberá porcentagem das vendas. Inicialmente, as maquiagens podem ser compradas via internet e, depois, serão distribuídas em lojas físicas para todo o Brasil.

Com seu novo negócio, Júlia procurou dar visibilidade para pequenos influenciadores, e eles estampam a campanha de divulgação de alguns produtos. “Para mim, empreendedorismo é isso. É ver uma oportunidade e abraçá-la. Sair da zona de conforto.”

Para Rayza Nicácio, de 29 anos, que lançou sua marca de roupas no ano passado – em plena pandemia da covid-19 –, o principal desafio hoje é administrar o tempo como empresária e influenciadora. “São dois tipos de empreendimentos”, avalia.

Aos 19 anos, começou a produzir conteúdo sobre sua transição capilar para trocar experiências com os internautas e criar uma comunidade. Ao longo dos dez anos de carreira, Rayza fez parcerias com marcas, como a Seda, e em agosto de 2020 decidiu empreender.

“Sempre tive dificuldades para encontrar peças no estilo básico com um pouco mais de sofisticação e que não custasse uma fortuna”, conta. “O fato é que no lançamento esgotamos o estoque, cerca de 3 mil peças, em 40 minutos.”

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2021-05-09T07:00:00.0000000Z

2021-05-09T07:00:00.0000000Z

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