O Estado de S. Paulo

A DUPLA JORNADA DAS JORNALISTAS

Profissionais do Estadão relatam como a pandemia sacudiu as missões de informar o leitor e formar os filhos.

Renata Cafardo

A opção de deixar um pouco as notícias ruins de lado – algo que até virou meme na pandemia – não existe para jornalistas. Mulheres com filhos, que trabalham em grandes jornais como o Estadão, tiveram de reaprender a serem mães em 2020 e 2021, mergulhadas até a cabeça em tudo o que está acontecendo. A reflexão sobre que País e que mundo deixaremos para nossas crianças é constante. Nós, jornalistas e mães, sabemos de tudo e não sabemos de nada.

Escrevemos, editamos, falamos sobre o que é o rascunho da história sem glamour nenhum. De pijama, cozinhando arroz, brincando de boneca, digitando no celular com a outra mão, sofrendo.

Ao lado do computador que descreve um cenário de milhares de mortos, uma criança pede atenção. Colo, comida ou uma brincadeira fora de hora. A repórter Paula Felix, mãe do Pedro, enfrenta isso diariamente. A vida da mãe jornalista na pandemia é sem intervalo.

No começo, eu – que sou mãe do Antônio e da Estela – tinha vergonha de parar uma entrevista com um secretário de Estado para limpar a minha filha que acabara de fazer xixi. Depois, uma vida ‘sem intervalo’

passei a me orgulhar de dar conta de tudo e ainda ser uma boa profissional.

A repórter de política Adriana Ferraz, mãe do Henrique, teve uma sabatina com um candidato a prefeito interrompida pelo filho. Todo mundo acabou caindo na gargalhada. Claro, também teve muito choro, desespero, meditação, terapia, para todas nós. Mas passou mais de um ano e estamos aqui, trabalhando como loucas e maternando como sempre. A repórter de Metrópole Renata Okumura, mãe da Sofia, ainda gera sua segunda filha no meio desse caos, com muita ternura.

Eu ponho os meus dois para dormir todas as noites, dou todos os banhos, fazemos as refeições juntos, estou perto em cada descoberta, coisas impensáveis até pouco tempo atrás, como lembrou bem a editora de Metrópole, Bia Reis, mãe do Tom e do Bernardo.

Como eu escrevo sobre educação, tive de dar em primeira mão a notícia de que as escolas fechariam em 2020 e depois em 2021 novamente no Estadão. Só depois que a matéria foi publicada parei para pensar – absolutamente chocada e perdida – sobre como aquilo me afetava pessoalmente. Esse é desafio, como disse a editora de Planejamento Luciana Garbin, mãe da Valentina e do Juan Pedro: manter o distanciamento, mas não perder a sensibilidade nunca.

Escrevemos matérias de peso, exclusivas, fazemos as pessoas refletirem sobre esses tempos sombrios. E, junto com tudo isso, ganhamos o presente de ficar mais próximas dos nossos filhos. Um tempo que nunca teríamos pra eles. Crescemos como profissionais e como mães nessa pandemia. Todas nós.

E como definiu a apresentadora da Rádio Eldorado Carolina Ercolin, mãe do Bernardo e do Benício, ganhamos um nono braço nesse polvo que já é cada mãe trabalhadora. Nossa homenagem e solidariedade neste especial – que está em podcast, texto e vídeos nas redes sociais – a todas as outras mães que fazem o Estadão e a todas as profissionais com filhos, de qualquer área, em qualquer lugar, durante a pandemia.

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2021-05-09T07:00:00.0000000Z

2021-05-09T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/281908776020386

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