O Estado de S. Paulo

‘Não enxergo um cenário de risco’

Na visão do CEO da AZ Quest, o mercado está acompanhando o cenário atual com receio exagerado Executivo diz que as melhores opções de investimento hoje estão bastante descontadas em relação ao preço justo

LUÍZA LANZA

No longo prazo, ideia da Arco é crescer também fora do Brasil, a princípio na América Latina

Os investidores brasileiros têm acompanhado muitas oscilações nos ativos de investimento causadas por dois fatores principais: o aumento das taxas de juros pelo mundo e a chegada do período eleitoral no Brasil.

Do lado macroeconômico, as pressões inflacionárias obrigaram até os países desenvolvidos a iniciar uma trajetória de aperto monetário. O movimento agravou a aversão a risco no mercado global, que passou a precificar a possibilidade de recessão nos EUA e na Europa.

No mercado doméstico, o “risco Brasil” voltou à pauta com a disputa presidencial marcada para outubro. Historicamente, as eleições costumam ser um período de volatilidade, que pode levar a um aumento do dólar e reduzir a entrada de capital estrangeiro na Bolsa de Valores, por exemplo.

Mas nenhum desses fatores deveria estar pressionando o preço dos ativos brasileiros da forma como está acontecendo, defende Walter Maciel, CEO da AZ Quest. Na visão do executivo da gestora de investimentos que carrega R$ 22 bilhões de ativos sob gestão, o mercado financeiro está exagerando na precificação de risco.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Durante sua participação no Expert XP, o sr. defendeu que os desafios atuais da economia nacional e global deveriam desanimar os investidores. Por quê?

O cenário de investimentos no Brasil tem os seus percalços e riscos, mas, na hora de investir, o que vale é a lógica do risco versus retorno. Uma empresa bem gerida pode ir bem quando seu setor vai mal, até mesmo quando seu país não está bem. Por isso, quando olhamos para a Bolsa, o valor justo dos ativos parece ser muito maior do que vemos agora. Eu não enxergo no cenário de hoje um risco que justifique os preços.

A precificação de risco está exagerada?

Sim. Eu acho que tem um componente psicológico muito alto também. Estamos em uma sociedade muito dividida, com os nervos à flor da pele. Para uns, se o ex-presidente Lula (PT) assumir, vamos virar União Soviética ou Cuba, e é melhor ir embora do País. A outra turma acredita que se o presidente Bolsonaro (PL) for reeleito vamos ter campos de concentração e os militares vão tomar conta. Se você concorda com isso, é melhor ficar com o dinheiro debaixo do colchão. Nunca houve uma eleição em que já vimos os dois candidatos líderes nas pesquisas no comando do Executivo. Sem debater a qualidade dos governos, há um grau de certeza mais elevado do que teríamos, por exemplo, no caso de um possível comando de Simone Tebet (MDB). Por isso tenho dificuldade de aceitar esse argumento de que há baixa visibilidade com as eleições. Eu acho que ela é alta.

Além das eleições, outra preocupação do mercado são as incertezas do cenário macroeconômico. Esse risco também está exagerado ou é um fator que preocupa mais?

Sem dúvidas tem seu impacto, mas também não vejo uma grave crise econômica global. Por aqui, o Banco Central já fez quase 12% de aumento na taxa de juros, mas esses apertos demoram cerca de 18 meses para começar a fazer efeito. E o mercado, que detesta esperar, fica nervoso.

Onde estão as melhores oportunidades da Bolsa?

O setor financeiro em geral, como Bradesco, Itaú, BTG, está tudo barato. No varejo, ficamos muito mais pessimistas com Magalu, Via, Natura e Americanas, pois vimos a inflação vindo muito forte, principalmente para as empresas que vendem para a classe C. Mas outras se destacaram, como Arezzo e Grupo Soma. Também as empresas que estão se reinventando, como a Equatorial. Essas empresas estão muito baratas e têm várias oportunidades. A depender do resultado das eleições, você pode ter um mix diferente daquelas que vão performar melhor. Em uma vitória do Bolsonaro, por exemplo, a performance das empresas públicas pode ser melhor do que em uma vitória do Lula. Companhias como Petrobras, Banco do Brasil, que estão muito baratas. Mas, para o investidor, é impossível acompanhar todas as empresas da Bolsa. Nossa dica é escolher alguns, dois ou três gestores, e deixar o dinheiro lá por um bom tempo. Dê a oportunidade.

Ao ‘E-investidor’, em 2020, o senhor disse que a aposta da AZ Quest era em fundos de crédito privado. E atualmente?

Estamos começando agora, mas ainda não está disponível para o público, os fundos de crédito de agro, que é um setor super robusto e paga taxas super elevadas. No geral, as apostas são os fundos de crédito privado, os multimercados e os fundos de ações. A hora de entrar é mesmo agora, quando as coisas estão baratas. O investidor sonha em pagar pouco, sem risco e em um céu de brigadeiro. Mas quando o céu estiver de brigadeiro, os preços vão estar o dobro. •

E-INVESTIDOR

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2022-08-22T07:00:00.0000000Z

2022-08-22T07:00:00.0000000Z

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