O Estado de S. Paulo

Mensalidade escolar deve subir mais que o dobro da inflação

Alta média em SP em 2025 deve ser de 9,5%; pandemia teria influência

ISABELA MOYA

Pesquisa com 345 colégios particulares no Estado de SP aponta que as instituições de ensino devem aplicar reajuste de 9,5% em média nas mensalidades de 2025. O porcentual de reajuste deve superar o dobro da inflação prevista para 2024, de 4,3%. De acordo com o levantamento da Explora Pesquisas Educacionais, empresa do Grupo Rabbit, consultoria especializada em instituições de ensino, o aumento real é uma forma de recuperar parte das perdas que ocorreram após a pandemia de covid-19, com redução de alunos e aumento da inadimplência e dos descontos. No RJ, a previsão é de um reajuste de 9%. Em MG, de 10%. O Estadão entrou em contato com diversas escolas particulares paulistas. Elas afirmam que ainda não definiram o reajuste para 2025.

As escolas particulares do Estado de São Paulo devem aplicar reajuste de, em média, 9,5% nas mensalidades do próximo ano letivo, segundo pesquisa feita pela Explora Pesquisas Educacionais, empresa do Grupo Rabbit, consultoria especializada em instituições de ensino. Foram consultados 345 colégios paulistas.

O porcentual de reajuste no Estado deverá ser mais do que o triplo da inflação acumulada durante o último ano (o IPCA, principal índice de inflação, registrou alta de 2,85% entre janeiro e agosto deste ano) e mais do que o dobro da inflação esperada para todo 2024 (4,3%, prevê o Banco Central).

O aumento superior à inflação ainda é uma forma de recuperar parte das perdas que ocorreram após a covid-19, com redução de alunos e aumento da inadimplência e dos descontos, segundo o presidente do Grupo Rabbit, Christian Coelho. “Na pandemia, as escolas deram desconto médio de 25%. Vão demorar anos para recuperar isso.”

No Rio de Janeiro, a previsão é de reajuste de 9% e em Minas Gerais de 10%. No Espírito Santo, não houve respostas suficientes para prever o porcentual. Em todo o País, a pesquisa consultou 680 escolas e foram calculadas as seguintes médias: 9% no CentroOeste; 9% no Nordeste; 9% no Norte; e 8% no Sul.

Esses valores são a média das escolas consultadas na pesquisa, mas não representam um parâmetro obrigatório. O Estadão entrou em contato com diversas escolas particulares de São Paulo, como Bandeirantes, Porto Seguro e Santa Cruz. As instituições afirmam que ainda não fecharam o valor do reajuste para 2025. A única a informar um porcentual foi a Escola Internacional St. Paul’s, que aplicou reajuste de 9,9%, em junho, uma vez que a instituição segue o calendário acadêmico britânico.

Não há porcentual máximo de reajuste fixado por lei, mas o aumento não pode ocorrer em período inferior a 12 meses e precisa ser divulgado até 45 dias antes da data final da matrícula para que os pais se organizem financeiramente ou procurem a transferência para outra instituição.

O aumento no valor das mensalidades reflete a inflação do ano anterior, o reajuste do salário de professores e investimentos feitos pela escola, diz a pesquisa. São considerados também custos adicionais que a escola teve no ano anterior, como conservação e manutenção, despesas administrativas e contratação de funcionários.

Todos os investimentos e a variação de custos precisam ser demonstrados em uma planilha para justificar o aumento, explica a assessora do Procon-SP, Patrícia Dias. “As escolas precisam ter coerência (no reajuste). Primeiro, ela pode perder o aluno se o valor foi muito alto. E ela tem de demonstrar os custos.”

Caso os pais não consigam arcar, é possível negociar com a direção. Em alguns casos, como quando há irmãos matriculados, abatimentos são comuns. Outra opção é um desconto ou isenção de mensalidade para alunos com bom desempenho nos boletins ou em um concurso de bolsas.

MÃE PREOCUPADA. Mãe de três filhos, Renata Silveira recebeu assustada a notícia de aumento da mensalidade e das taxas de materiais de seus dois filhos mais novos, que estudam em um colégio particular em São José do Rio Preto, no interior paulista.

Com a inclusão de duas disciplinas obrigatórias – Robótica e uma nova modalidade de Inglês –, a mensalidade do caçula, que tem 65% de desconto por bolsa, passa de R$ 560 para R$ 720, alta de 28,5%. Há ainda a taxa de material didático, que saltou de R$ 230 para R$ 311 (mais 35%).

“O aumento é muito alto”, diz a servidora pública técnica do Judiciário, que se queixa da defasagem do seu salário frente aos custos elevados.

Ela relata dificuldades financeiras desde que o marido perdeu o emprego. “Eu me viro para manter as contas em dia, pagar a escola das crianças. Não sobra dinheiro para lazer. Fazemos isso para ter qualidade no ensino das crianças.”

A filha mais velha estuda em uma escola particular militar, que ainda não divulgou o reajuste. Mas Renata já antecipa que o valor será alto, pois a filha entrará no ensino médio, etapa em que os preços costumam subir.

A reforma do ensino médio – com reestruturação dos currículos e inclusão de disciplinas optativas – também ajudou a pressionar o caixa das escolas. Renata inscreveu a filha na prova para entrar no instituto federal da cidade. Além de aliviar as contas, é uma saída para ajudar no sonho da adolescente de cursar Medicina. “Não teria condição de pagar faculdade particular”, diz a mãe, que mira a possibilidade de a filha entrar na universidade pública pelas cotas.

REMATRÍCULA. O presidente do Rabbit diz que tem notado tendência de maior demora das famílias para fazer a rematrícula desde a pandemia. Um dos motivos é a maior inadimplência, pois não é possível a rematrícula para o ano seguinte quando há mensalidades em atraso. “Cada vez mais os pais demoram para realizar as renovações, resultado que aumenta o número de alunos que se matriculam em março e abril”, diz Coelho.

Em casos de inadimplência da mensalidade, a escola não pode impedir o aluno de ter acesso aos seus direitos acadêmicos no ano vigente, como frequentar aulas, atividades pedagógicas e provas ou emitir certificado de conclusão, boletins e documentos.

Procurada, a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) reforçou que as instituições particulares de ensino têm autonomia para elaborar e definir os valores da planilha de custos conforme a diversidade de atividades.

“Eu me viro para manter as contas em dia, pagar a escola das crianças. Não sobra dinheiro para lazer. Fazemos isso para ter qualidade no ensino das crianças”

Renata Silveira

Servidora do Judiciário

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2024-09-27T07:00:00.0000000Z

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