O Estado de S. Paulo

O fruto das agrotechs

Empresas desenvolvem tecnologias que transportam a revolução 4.0 para o campo e ajudam a otimizar produção, controle e manejo

Cris Olivette

Startups criam ferramentas e

serviços capazes de levar a revolução tecnológica para o agronegócio, ao ajudar a otimizar a produção, o controle e o manejo de plantações e do gado

As agrotehs, startups que oferecem tecnologias voltadas ao agronegócio, estão ajudando a impulsionar ainda mais o segmento responsável por 22% do PIB nacional, que em 2017 foi de R$ 6,6 trilhões.

Enquanto algumas oferecem soluções que contribuem com o aumento da produtividade, outras auxiliam na tomada de decisão, analisando grande volume de dados.

Entre elas está a CowMed, de Thiago Martins, que monitora e avalia questões nutricionais, sanitárias e reprodutivas de vacas. “Brinco que nosso grande negócio é expressar a ‘opinião’ da vaca para o produtor.”

A tecnologia é embarcada em coleira usada pelos animais. “O equipamento emite dados sobre o comportamento de ruminação, que é indicador da saúde animal.” O desenvolvimento do produto começou em 2010 e foi lançado há dois anos.

“O idealizador foi meu pai. Ele é professor universitário e foi fazer doutorado em Portugal. Na Europa, conheceu sistemas de monitoramento de vaca chamado pedômetro. Na volta, sugeriu que eu, aluno de engenharia mecânica, e Leonardo, meu irmão, aluno de engenharia elétrica, iniciássemos pesquisa sobre o assunto.”

Atualmente, a tecnologia atende 50 propriedades. “Depois que a solução chegou ao mercado, percebemos a necessidade de assessorar o pecuarista na interpretação dos dados e passamos a oferecer plano de monitoramento de saúde e bem-estar animal”, conta.

Ele mantém equipes que acompanham e interpretam dados 24 horas por dia. “Quando identificamos que algo está errado emitimos alerta ao proprietário.”

Segundo ele, pelas variáveis dos dados, muito mais que dar alertas, as vacas dão ‘opinião’. “Identificamos, por exemplo, quando estão se preparando para parir, quando estão com estresse térmico, se estão gostando da comida ou prestes a ficar doentes. Com base nessas informações, os pecuaristas tomam medidas preventivas e evitam o adoecimento dos animais.”

Ele conta que um cliente reduziu em 50% a taxa de descarte de animal por ano. Já a produção de outro produtor passou de 28 litros de leite por vaca/dia, para 38 litros por vaca/dia.

“Não é milagre, é que agora os produtores ‘escutam’ as vacas e elas estão felizes, por isso, entregam mais qualidade.” Até o final do ano a empresa espera monitorar 20 mil animais. Hoje, monitora quatro mil.

Pesquisa. Pós-doutorado em genética e manejo de culturas agrícolas, o CEO da Smartbreeder,

Eder Giglioti, atua há 25 anos na área de pesquisa.

“Sempre busquei uma solução inteligente para otimizar a performance e a gestão do manejo das plantações, porque os produtores gastam muito com insumos para controlar doenças, pragas e fazer adubação.”

Segundo ele, pela complexidade de cada cultura, os produtores perdem 40% do investimento, porque não acertam onde, como e quando usar os insumos de maneira ideal.

“Assim, fazem mais aplicações de produtos e o volume de adubação tem de ser maior. E por não fazerem o manejo adequado, não atingem a produtividade ideal.”

Giglioti ressalta que vivemos a quarta revolução da agricultura. “É revolução da informação, mas mais que informações precisas, o produtor precisa tomar decisões assertivas e isso é possível por meio de modelagens matemática e algoritmos.”

A plataforma desenvolvida pela Smartbreeder utiliza tecnologia de big data, inteligência artificial, dados em nuvem e conhecimentos de biologia, física, medicina e estatística.

“Trabalhamos com essa camada de inteligência e orientamos os produtores. As recomendações incluem desde o dimensionamento de equipe necessária para uma ação até locais onde há cultura de bicho-da-seda, apiários e assentamentos. Analisamos mais de 100 milhões de dados”, afirma.

A plataforma foi desenvolvida e validada ao longo de seis anos e chegou ao mercado no final de 2015. “A solução já foi empregada em dois milhões de hectares de cana-de-açúcar e ajudou a aumentar a produção em seis milhões de toneladas.”

Giglioti tem como meta, até 2019, atender 300 mil hectares de plantações e chegar a 1,5 milhão de hectares em 2020.

Queimada. “O nível de perdas de plantações e florestas atingidas por incêndios é muito grande e todo o sistema de detecção e controle sempre foi feito manualmente, contando com apoio da sociedade”, afirma o CEO da Sintecsys, Rogério Cavalcante.

Para sanar o problema, a empresa desenvolveu algoritmo e utiliza câmeras acopladas em torres para detectar focos de incêndio localizados em um raio de até 15 km de distância.

“A tecnologia é 100% nacional e consiste em câmera que gira 360º em busca de fumaça. Ao identificar um foco de fumaça é emitido alerta para o operador do sistema, que realiza a triangulação de imagens e obtém a coordenada do foco.”

Segundo ele, a tecnologia reduz o tempo de detecção de 40 para cinco minutos. Além disso, reduz em mais de 90% o tempo de duração do incêndio e em 100% a aplicação de multas ambientais. “Oferecemos o sistema por meio de locação.”

A empresa está no mercado desde 2016 e espera crescer 60% este ano em contratos assinados. “Dentro de dois anos pretendemos começar o processo de internacionalização, porque já existe demanda.”

Cavalcante destaca que o produto também pode evitar catástrofes ambientais provocadas por incêndios, como as que ocorrem nos Estados Unidos, Austrália e Portugal.

Segundo ele, para ter acesso ao serviço o proprietário investe R$ 6,9 mil por mês. “Um único ponto é capaz de monitorar a propriedade inteira, porque abrange cerca de 20 mil hectares. Os proprietários podem se unir e adicionar novas torres ao sistema, abrangendo área cada vez maior.”

“Ao identificar um foco de fumaça é emitido alerta para operador do sistema, que avisa o proprietário” Rogério Cavalcante CEO da Sintecsys

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2018-05-13T07:00:00.0000000Z

2018-05-13T07:00:00.0000000Z

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